Aos Meus Filhos
Na intermitĂȘncia da vital canseira,
Sois vĂłs que sustentais ( Força Alta exige-o … )
Com o vosso catalĂtico prestĂgio,
Meu fantasma de carne passageira!VulcĂŁo da bioquĂmica fogueira
Destruiu-me todo o orgĂąnico fastĂgio …
Dai-me asas, pois, para o Ășltimo remĂgio,
Dai-me alma, pois, para a hora derradeira!CulminĂąncias humanas ainda obscuras,
ExpressÔes do universo radioativo,
Ions emanados do meu prĂłprio ideal,Benditos vĂłs, que, em Ă©pocas futuras,
Haveis de ser no mundo subjetivo,
Minha continuidade emocional!
Sonetos sobre Asas de Augusto dos Anjos
6 resultadosAve Dolorosa
Ave perdida para sempre – crença
Perdida – segue a trilha que te traça
O Destino, ave negra da Desgraça,
GĂȘmea da MĂĄgoa e nĂșncia da Descrença!Dos sonhos meus na Catedral imensa
Que nunca pouses. Lå, na névoa baça
Onde o teu vulto lĂșrido esvoaça,
Seja-te a vida uma agonia intensa!Vives de crenças mortas e te nutres,
Empenhada na sanha dos abutres,
Num desespero rĂĄbido, assassino…E hĂĄs de tombar um dia em mĂĄgoas lentas,
Negrejadas das asas lutulentas
Que te emprestar o corvo do Destino!
Asa De Corvo
Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa prĂłpria casa…Perseguido por todos os reveses,
Ă meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto Ă brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!à com essa asa que eu faço este soneto
E a indĂșstria humana faz o pano preto
Que as famĂlias de luto martiriza…Ă ainda com essa asa extraordinĂĄria
Que a Morte – a costureira funerĂĄria –
Cose para o homem a Ășltima camisa!
Aurora Morta, Foge! Eu Busco A Virgem Loura
Aurora morta, foge! Eu busco a virgem loura
Que fugiu-me do peito ao teu clarĂŁo de morte
E Ela era a minha estrela, o meu Ășnico Norte,
O grande Sol de afeto – o Sol que as almas doura!Fugiu… e em si a Luz consoladora
Do amor – esse clarĂŁo eterno d’alma forte –
Astro da minha Paz, SĂrius da minha Sorte
E da Noute da vida a VĂȘnus Redentora.Agora, oh! Minha MĂĄgoa, agita as tuas asas,
Vem! Rasga deste peito as nebulosas gazas
E, num PĂĄlio auroral de Luz deslumbradora,Ascende Ă Claridade. Adeus oh! Dia escuro,
Dia do meu Passado! Irrompe, meu Futuro;
Aurora morta, foge – eu busco a virgem loura!
A Esperança
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo Ă© uma ilusĂŁo completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glĂłria no futuro – avança!E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!
GĂȘnio Das Trevas LĂșgubres, Acolhe-me
GĂȘnio das trevas lĂșgubres, acolhe-me,
Leva-me o esp’rito dessa luz que mata,
E a alma me ofusca e o peito me maltrata,
E o viver calmo e sossegado tolhe-me!Leva-me, obumbra-me em teu seio, acolhe-me
N’asa da Morte redentora, e Ă ingrata
Luz deste mundo em breve me arrebata
E num pallium de tĂȘnebras recolhe-me!Aqui hĂĄ muita luz e muita aurora,
HĂĄ perfumes d’amor – venenos d’alma –
E eu busco a plaga onde o repouso mora,E as trevas moram, e, onde d’ĂĄgua raso
O olhar nĂŁo trago, nem me turba a calma
A aurora deste amor que Ă© o meu ocaso!