O Coração
Que jogo jogas, comédia ou lágrima? Cor
suspensa. ProdĂgio doendo. Enganador
relâmpago. Donde se enreda esta coragem
que chora ao riso e ri Ă dor? Quatro sĂŁoas pedras mestras do teu jogo. Dois cavalos
e os reis. MelancĂłlicos actores. Vazia, a
plateia. O tempo ferido. O peĂŁo fugitivo.
A emoção real do presságio. O acenocordial do outro lado do jogo. Inscrição
Ăşnica do pĂłlen, jogada que se arrasta.
Gota de tédio na lonjura das casas.O fecho do jogo se conclui. Muda o rosto a
visĂŁo possĂvel. Cordato, o lance destrĂłi
a memória do que já não vejo ou sei.
Sonetos sobre Atores
5 resultadosUm Dia Guttemberg
Um dia Guttemberg c’o a alma aos céus suspensa,
Pegou do escopro ingente e pĂ´s-se a trabalhar!
E fez do velho mundo um rútilo alcançar
Ao mágico clangor de sua idéia imensa!Rolou por todo o globo a luz da sacra imprensa!
Ruiu o despotismo no pó, a esbravejar…
Uniram-se n’um lago, o céu, a terra, o mar…
Rasgou-se o manto atroz da horrĂvel treva densa!…Ergueram-se mil povos ao som das melopĂ©ias,
Das grandes cavatinas olĂmpicas da arte!
Raiou o novo sol das fúlgidas idéias!…Porém, quem lance luz maior por toda a parte
És tu, sublime atriz, ó misto de epopéias
Que sabes no tablado subir, endeusar-te!…
É Delicada, Suave, Vaporosa
É delicada, suave, vaporosa,
A grande atriz, a singular feitura…
É linda e alva como a neve pura,
Débil, franzina, divinal, nervosa!…E d’entre os lábios setinais, de rosa
Libram-se pérolas de nitente alvura…
E doce aroma de sutil frescura
Sai-lhe da leve compleição mimosa!…Quando aparece no febril proscênio
Bem como os mitos do passado, ingentes,
Bem como um astro majestoso, helênio…Sente-se n’alma as atrações potentes
Que sĂł se operam ao fulgor do gĂŞnio,
As rubras chispas ideais, ferventes!…
Êxtase De Mármore
Ă€ grande atriz ApolĂ´nia.
O mármore profundo e cinzelado
De uma estátua viril, deliciosa;
Essa pedra que geme, anseia e goza
Num misticismo altĂssimo e calado;Essa pedra imortal — campo rasgado
A comoção mais Ăntima e nervosa
Da alma do artista, de um frescor de rosa,
Feita do azul de um céu muito azulado;Se te visse o clarão que pelos ombros
Teus, rola, cai, nos mĂşltiplos assombros
Da Arte sonora, plena de harmonia;O mármore feliz que é muito artista
Também — como tu és — à tua vista
De humildade e ciĂşme, coraria!
O Seu Boné
Ă€ atriz Adelina Castro
É um boné ideal, de feltros e de plumas,
Que ela usa agora, assim como um turbante
Turco, aveludado, doce como algumas
Nuvens matinais que rolam no levante.Lembro quando ao vĂŞ-lo a rubra marselhesa,
Lembro sensações e cousas de prodĂgio
E penso que ele tem a máscula grandeza
Desse sedutor, vital barrete frĂgio!…Às vezes meu olhar medindo-lhe o contorno
E a flácida plumagem que serve-lhe d’adorno,
— satânico, voraz, esplĂŞndido de fĂ©!Exclama num idĂlio cândido e singelo,
Por entre as convulsões artĂsticas do Belo; —
Oh! tem coração e alma, esse boné!…