Sonetos sobre Aurora de Auta de Souza

4 resultados
Sonetos de aurora de Auta de Souza. Leia este e outros sonetos de Auta de Souza em Poetris.

Tudo O Que É Puro, Santo E Resplendente

Tudo o que Ă© puro, santo e resplendente,
N’este mundo cruel de desenganos,
Toda a ventura dos primeiros anos
N’um’alma que desabrocha sorridente;

Tudo o que ainda vemos de potente
Na vastidĂŁo sem fim dos oceanos,
E da terra nos prantos soberanos
Trazidos pela aurora refulgente;

Tudo o que desce do infinito ousado:
O sol, a brisa, o orvalho prateado,
A luz do amor, do bem, das esperanças;

Tudo, afinal, que vem do CĂ©u dourado
A despertar o coração magoado,
– Deus encerrou nos olhos das crianças!

Hoje

Fiz anos hoje… Quero ver agora
Se este sofrer que me atormenta tanto
Me nĂŁo deixa lembrar a paz, o encanto,
A doce luz de meu viver de outr’ora.

Tão moça e mártir! Não conheço aurora,
Foge-me a vida no correr do pranto,
Bem como a nota de choroso canto
Que a noite leva pelo espaço em fora.

Minh’alma voa aos sonhos do passado,
Em busca sempre d’esse ninho amado
Onde pousava cheia de alegria.

Mas, de repente, num pavor de morte,
Sente cortar-lhe o vĂ´o a mĂŁo da sorte…
Minha ventura sĂł durou um dia.

Página Triste

Há muita dor por este mundo a fora
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mĂŁe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!

Alma inocente sĂł de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
Também, oh Dor, tu queiras, desolada,

Erguer um trono, procurar guarida…
Foge do berço! Não magoes a vida
D’esta ave implume, lirial botĂŁo…

Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! Procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh’alma, aqui no coração!

ManhĂŁ No Campo

A Maria Nunes

Estendo os olhos pelo prado a fora:
Verdura e flores Ă© o que a vista alcança…
– Bendito oásis onde o olhar descansa
Quando saudades do passado chora. –

Escuto ao longe uma canção sonora.
Voz de mulher ou, antes, de criança
Entoa o hino branco da Esperança,
Hino das aves ao nascer da Aurora.
Por toda parte risos e fulgores
E a Natureza desabrochando em flores,
Iluminada pelo Sol risonho,

Recorda um’alma diluĂ­da em prece,
Um coração feliz que inda estremece
Ă€ luz sagrada do primeiro sonho!