Conchita
Adeus aos filtros da mulher bonita;
A esse rosto espanhol, pulcro e moreno;
Ao pĂ© que no bolero… ao pĂ© pequeno;
PĂ© que, alĂgero e cĂ©lere, saltita…Lira do amor, que o amor nĂŁo mais excita,
A um silĂȘncio de morte eu te condeno;
Despede-te; e um adeus, no Ășltimo treno,
Soluça às graças da gentil Conchita:A esses, que em ondas se levantam, seios
Do mais cheiroso jambo; a esses quebrados
Olhos meridionais de ardĂȘncia cheios;A esses lĂĄbios, enfim, de nĂĄcar vivo,
Virgens dos lĂĄbios de outrem, mas corados
Pelos beijos de um sol quente e lascivo.
Sonetos sobre Beijos de Raimundo Correia
4 resultadosDesdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz… O sĂąndalo se evolua;O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas…
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolĂȘncia mĂłrbida, espanhola…Como eu sou infeliz! Como Ă© sangrenta
Essa mĂŁo impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!Essa mĂŁo de fidalga, fina e branca;
Essa mĂŁo, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!
Beijos Do CĂ©u
Sonhei-te assim, Ăł minha amante, um dia:
– Vi-te no cĂ©u; e, anamoradamente,
De beijos, a falange resplendente
Dos serafins, teu corpo inteiro ungia…Santos e anjos beijavam-te… Eu bem via
Beijavam todos o teu lĂĄbio ardente;
E, beijando-te, o prĂłprio Onipotente,
O prĂłprio Deus nos braços te cingia!Nisto, o ciĂșme – fera que eu nĂŁo domo –
Despertou-me do sonho, repentino
Vi-te a dormir tĂŁo plĂĄcida a meu lado…E beijei-te tambĂ©m, beijei-te… e, ai! como
Achei doce o teu lĂĄbio purpurino.
Tantas vezes assim no céu beijado!
Julieta
A loura Julieta enamorada,
Triste, lĂąnguida, pĂĄlida, abatida,
Aparece radiante na sacada
Dos raios brancos do luar ferida.Engolfa o olhar na sombra condensada,
Perscruta, busca em torno… e na avenida
Surge Romeu; da valerosa espada
Esplende a clara lĂąmina polida…Sente-se o arfar de sĂŽfregos desejos,
Estoura no ar um turbilhĂŁo de beijos,
Mas o dia reponta!… Ă indiscretaDa cotovia matinal garganta!
Ă perigo do amor, que o amor quebranta!
Ă noites de Verona! Ă Julieta!