Sonetos sobre Beleza de Florbela Espanca

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Sonetos de beleza de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

Saudades

Saudades! Sim.. talvez.. e por que nĂŁo?…
Se o sonho foi tĂŁo alto e forte
Que pensara vĂȘ-lo atĂ© Ă  morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quĂȘ?… Ah, como Ă© vĂŁo!
Que tudo isso, Amor, nos nĂŁo importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pĂŁo.

Quantas vezes, Amor, jĂĄ te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

RenĂșncia

A minha mocidade hĂĄ muito pus
No tranquilo convento da tristeza;
LĂĄ passa dias, noites, sempre presa,
Olhos fechados, magras mĂŁos em cruz…

LĂĄ fora, a Noite, SatanĂĄs, seduz!
Desdobra-se em requintes de Beleza…
E como um beijo ardente a Natureza…
A minha cela Ă© como um rio de luz…

Fecha os teus olhos bem! NĂŁo vejas nada!
Empalidece mais! E, resignada,
Prende os teus braços a uma cruz maior!

Gela ainda a mortalha que te encerra!
Enche a boca de cinzas e de terra
Ó minha mocidade toda em flor!