A Casa Da Rua AbĂlio
A casa que foi minha, hoje Ă© casa de Deus.
Traz no topo uma cruz. Ali vivi com os meus,
Ali nasceu meu filho; ali, sĂł, na orfandade
Fiquei de um grande amor. Ăs vezes a cidadeDeixo e vou vĂȘ-la em meio aos altos muros seus.
Sai de lå uma prece, elevando-se aos céus;
SĂŁo as freiras rezando. Entre os ferros da grade,
Espreitando o interior, olha a minha saudade.Um sussurro também, como esse, em sons dispersos,
Ouvia nĂŁo hĂĄ muito a casa. Eram meus versos.
De alguns talvez ainda os ecos falaram,E em seu surto, a buscar o eternamente belo,
Misturados Ă voz das monjas do Carmelo,
Subirão até Deus nas asas da oração.
Sonetos sobre Belos de Alberto d'Oliveira
3 resultadosCheiro De EspĂĄdua
“Quando a valsa acabou, veio Ă janela,
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.Eram os ombros, era a espĂĄdua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixĂŁo, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essĂȘncia dela!Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciĂșme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que Ă luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite Ă quela espĂĄdua linda!”
Afrodite II
Cabelo errante e louro, a pedraria
Do olhar faiscando, o mĂĄrmore luzindo
AlvirrĂłseo do peito, – nua e fria,
Ela Ă© a filha do mar, que vem sorrindo.Embalaram-na as vagas, retinindo,
Ressoantes de pĂ©rolas, – sorria
Ao vĂȘ-la o golfo, se ela adormecia
Das grutas de Ăąmbar no recesso infindo.Vede-a: veio do abismo! Em roda, em pĂȘlo
Nas ĂĄguas, cavalgando onda por onda
Todo o mar, surge um povo estranho e belo;VĂȘm a saudĂĄ-la todos, revoando,
Golfinhos e tritÔes, em larga ronda,
Pelos retorsos bĂșzios assoprando.