Se Nada HĂĄ de Novo
Se nada hĂĄ de novo e tudo o que hĂĄ
jĂĄ dantes era como agora Ă©,
só ilusão a criação serå:
criar o jĂĄ criado para quĂȘ?Que alguĂ©m me mostre, sobre um livro antigo
como quinhentas translaçÔes astrais,
a tua imagem, na inscrição, no abrigo
do espĂrito em seus signos iniciais.Que eu saiba o que diria o velho mundo
deste milagre que Ă© a tua forma;
se te viram melhor, se me confundo,se as translaçÔes seguem a mesma norma.
Mas disto estou seguro: antigos textos
louvaram mais com bem menores pretextos.Tradução de Carlos de Oliveira
Sonetos sobre Bem de William Shakespeare
5 resultadosĂs MĂșsica e a MĂșsica Ouves Triste?
Ăs mĂșsica e a mĂșsica ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que a teu prazer resiste,
ou tens prazer sĂł na melancolia?se a concĂłrdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
sĂŁo-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.VĂȘ que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mĂștuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mĂŁeque, todos num, cantam de encantamento:
à canção sem palavras, våria e em
unĂssono: “sĂł nĂŁo serĂĄs ninguĂ©m”.
à Morte Peço a Paz Farto de Tudo
à morte peço a paz farto de tudo,
de ver talento a mendigar o pĂŁo,
e o oco abonitado e farfalhudo,
e a pura fé rasgada na traição,e galas de ouro es despejados bustos,
e a virgindade Ă bruta rebentada,
e em justa perfeição tratos injustos,
e o valor da inépcia valer nada,e autoridade na arte pÎr mordaça,
e pedantes a engenho dando lei,
e a verdade por lorpa como passa,e no cativo bem o mal ser rei.
Farto disto, nĂŁo deixo o meu caminho,
pois se eu morrer, Ă© o meu amor sozinho.
Meus Olhos VĂȘem Melhor se os Vou Fechando
Meus olhos vĂȘem melhor se os vou fechando.
Viram coisas de dia e foi em vĂŁo,
mas quando durmo, em sonhos te fitando,
sĂŁo escura luz que luz na escuridĂŁo.Tu cuja sombra faz a sombra clara,
como em forma de sombras assombravas
ledo o claro dia em luz mais rara,
se em sombra a olhos sem visão brilhavas!Que benção a meus olhos fora feita
vendo-te Ă viva luz do dia bem,
se a tua sombra em trevas imperfeitaa olhos sem visĂŁo no sono vem!
Vejo os dias quais noites nĂŁo te vendo,
e as noites dias claros sonhos tendo.
Ah, que Olhos PĂŽs Amor na Minha Cara
Ah, que olhos pĂŽs Amor na minha cara
mas sem correspondĂȘncia a fiel vista?
Ou se a tĂȘm, meu juĂzo onde Ă© que pĂĄra
que em tĂŁo falsas censuras inda insista?Se Ă© belo o que meus olhos falso adoram
que quer dizer o mundo em negação?
E se nĂŁo Ă©, amor mostra se goram
seus olhos, menos fiéis que os homens: não,como pode? Como pode, se pranto
e espera o afectam, ser fiel no olhar?
De erros da minha vista nĂŁo me espanto,o sol nĂŁo vĂȘ atĂ© o cĂ©u limpar.
Manhoso amor, com choros pÔes-me cego,
mas vendo bem, a tuas faltas chego.