Anseio
Nessas paragens desoladas, onde
O silĂŞncio campeia soberano
Morreram notas do bulĂcio humano,
Nem vibra a corda que a saudade esconde.Anseios d’alma aqui se perdem. Donde
Fluiu outrora a luz dum doce engano,
Hoje Ă© trevas, Ă© dor, Ă© desengano,
E eu ergo preces que ninguém responde.Triste criança virginal, quem dera
Voar est’alma a ti, longe dos laços
Dessa jaula de carne que a encarcera!Ah! Que unidos assim, lá nos espaços,
Cantarias do amor a primavera,
Tendo a minh’alma presa nos teus braços!
Sonetos sobre Braços
150 resultadosAs Minhas Ilusões
Hora sagrada dum entardecer
De Outono, Ă beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisĂvel lira …
O sol Ă© um doente a enlanguescer …A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num Ăşltimo suspiro, a estremecer!O sol morreu … e veste luto o mar …
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim … uma por uma …
Quinze Anos
Eu amo a vasta sombra das montanhas,
Que estendem sobre os largos continentes
Os seus braços de rocha negra, ingentes,
Bem como braços colossais aranhas.D’ali o nosso olhar vĂŞ tĂŁo estranhas
Coisas, por esse céu! e tão ardentes
Visões, lá n’esse mar de ondas trementes!
E Ă s estrelas, d’ali, vĂŞ-as tamanhas!Amo a grandeza misteriosa e vasta…
A grande ideia, como a flor e o viço
Da árvore colossal que nos domina…Mas tu, criança, sĂŞ tu boa… e basta:
Sabe amar e sorrir… Ă© pouco isso?
Mas a ti sĂł te quero pequenina!
Entro Pelo Uraguai: Vejo A Cultura
Entro pelo Uraguai: vejo a cultura
Das novas terras por engenho claro;
Mas chego ao Templo magnĂfico e paro
Embebido nos rasgos da pintura.Vejo erguer-se a RepĂşblica perjura
Sobre alicerces de um domĂnio avaro:
Vejo distintamente, se reparo,
De Caco usurpador a cova escura.Famoso Alcides, ao teu braço forte
Toca vingar os cetros e os altares:
Arranca a espada, descarrega o corte.E tu, Termindo, leva pelos ares
A grande ação já que te coube em sorte
A gloriosa parte de a cantares
Em VĂŁo
Passo triste na vida e triste sou,
Um pobre a quem jamais quiseram bem!
Um caminhante exausto que passou,
Que não diz onde vai nem donde vem.Ah! Sem piedade, a rir, tanto desdém
a flor da minha boca desdenhou!
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou!E eu quero bem a tudo, a toda gente…
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços!E tem passado, em vão, a mocidade
Sem que no meu caminho uma saudade
Abra em flores a sombra dos meus passos!
À Tua Porta Há um Pinheiro Manso
À tua porta há um pinheiro manso
De cabeça pendida, a meditar,
Amor! Sou eu, talvez, a contemplar
Os doces sete palmos do descanso.Sou eu que para ti atiro e lanço,
Como um grito, meus ramos pelo ar,
Sou eu que estendo os braços a chamar
Meu sonho que se esvai e não alcanço.Eu que do sol filtro os ruivos brilhos
Sobre as louras cabeças dos teus filhos
Quando o meio-dia tomba sobre a serra…E, Ă noite, a sua voz dolente e vaga
É o soluço da minha alma em chaga:
Raiz morta de sede sob a terra!
E por Vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos   E por vezesencontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezesao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites      não dos meses
lá no fundo dos copos encontramosE por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
RenĂşncia
A minha mocidade há muito pus
No tranquilo convento da tristeza;
Lá passa dias, noites, sempre presa,
Olhos fechados, magras mĂŁos em cruz…Lá fora, a Noite, Satanás, seduz!
Desdobra-se em requintes de Beleza…
E como um beijo ardente a Natureza…
A minha cela Ă© como um rio de luz…Fecha os teus olhos bem! NĂŁo vejas nada!
Empalidece mais! E, resignada,
Prende os teus braços a uma cruz maior!Gela ainda a mortalha que te encerra!
Enche a boca de cinzas e de terra
Ă“ minha mocidade toda em flor!
A Nossa Senhora Da Madre De Deus Indo Lá O Poeta
Venho, Madre de Deus, ao Vosso monte
E reverente em vosso altar sagrado,
Vendo o Menino em berço argenteado
O sol vejo nascer desse Horizonte.Oh quanto o verdadeiro Faetonte
Lusbel, e seu exército danado
Se irrita, de que um braço limitado
Exceda na soltura a Alcidemonte.Quem vossa devoção não enriquece?
A virtude, Senhora, Ă© muito rica,
E a virtude sem vĂłs tudo empobrece.NĂŁo me espanto, que quem vos sacrifica
Essa hĂłstia do altar, que vos ofrece,
Que vós o enriqueçais, se a vós a aplica.
A Vida
“A Vida”
V
Isso tudo nos dizem, – entretanto
nós dois seguimos braços dados,
creio que se tu sabes que te adore tanto
do que ouviste talvez nĂŁo tens receio…A vida, – Ă© o nosso amor, o nosso encanto!
Nem a podemos mais parar no meio…
Chorar? – bem sei que choras, mas teu pranto
Ă© a alegria que canta no teu seio…O mundo Ă© bom e nĂłs o cremos, basta!
E se um amor tĂŁo grande nos enleva
e pela vida unidos nos arrasta,– que eu te abrace e te apoies sempre em mim,
e desafiando o mundo envolto em treva
sigamos juntos para um mesmo fim!
Mais Alto
Mais alto, sim! Mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quemO mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdĂ©m!Mais alto, sim! Mais alto! A IntangĂvel
Turris Eburnea erguida nos espaços,
Ă€ rutilante luz dum impossĂvel!Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
O mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!
Horas Rubras
Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volĂşpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…Oiço olaias em flor Ă s gargalhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
SĂŁo pedaços de prata p’las estradas…Os meus lábios sĂŁo brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…Sou chama e neve e branca e mist’riosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ă“ meu Poeta, o beijo que procuras!
Pero Coelho
(Descobridor do Ceará)
Na umidade do cárcere de Olinda
– Enjaulado jaguar que a vida acaba
Lembrando a selva rumorosa e linda –
Sonha o conquistador da Ibiapaba.O sonho Ă© o resto da jornada: Ă© a vinda;
E a morte; Ă© a sede; Ă© o desespero; a taba
Toda investindo. A terra em fogo. Um baba;
Outro cai; outro fica; outro se finda…Dois filhos morrem nos seus braços: vede!
E nem, sequer, irmĂŁo de Agar, tem perto,
Nos olhos água que lhes mate a sede!E, ao fim de tudo, acusações e gritas…
Ah! por que nĂŁo tombara no Deserto
Abraçado com os seus israelitas!?…
Em Flor Vos Arrancou, De EntĂŁo Crecida
Em flor vos arrancou, de entĂŁo crescida
(Ah! senhor dom AntĂłnio!), a dura sorte,
donde fazendo andava o braço forte
a fama dos Antigos esquecida.ĂĽa sĂł razĂŁo tenho conhecida
com que tamanha mágoa se conforte:
que, pois no mundo havia honrada morte,
que nĂŁo podĂeis ter mais larga a vida.Se meus humildes versos podem tanto
que co desejo meu se iguale a arte,
especial matéria me sereis.E, celebrado em triste e longo canto,
se morrestes nas mĂŁos do fero Marte,
na memĂłria das gentes vivereis.
CustĂłdia
Ai, CustĂłdia! sonhei, nĂŁo sei se o diga:
Sonhei, que entre meus braços vos gozava.
Oh se verdade fosse, o que sonhava!
Mas não permite Amor, que eu tal consiga.O que anda no cuidado, e dá fadiga,
Entre sonhos Amor representava
No teatro da noite, que apartava
A alma dos sentidos, doce liga.Acordei eu, feito sentinela
De toda a cama, pus-me uma peçonha,
Vendo-me sĂł sem vĂłs, e em tal mazela.E disse, porque o caso me envergonha,
Trabalho tem, quem ama, e se desvela,
E muito mais quem dorme, e em falso sonha.
Crucificada
Amiga… noiva… irmĂŁ… o que quiseres!
Por ti, todos os céus terão estrelas,
Por teu amor, mendiga, hei-de merecĂŞ-las,
Ao beijar a esmola que me deres.Podes amar até outras mulheres!
– Hei de compor, sonhar palavras belas,
Lindos versos de dor sĂł para elas,
Para em lânguidas noites lhes dizeres!Crucificada em mim, sobre os meus braços,
Hei de poisar a boca nos teus passos
Pra nĂŁo serem pisados por ninguĂ©m.E depois… Ah! depois de dores tamanhas,
Nascerás outra vez de outras entranhas,
Nascerás outra vez de uma outra Mãe!
Divina Comédia
Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisĂveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassĂveis,
A quem serve o destino triunfante,Porque Ă© que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e sĂł gera, inestinguĂveis,
Dor, pecado, ilusĂŁo, lutas horrĂveis,
N’um turbilhĂŁo cruel e delirante…Pois nĂŁo era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda nĂŁo existe,
Ter ficado a dormir eternamente?Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»
Namorados
Um ao lado do outro, – assim juntinhos,
mãos enlaçadas num enlevo infindo,
– seguem… a imaginar que estĂŁo seguindo
o mais suave de todos os caminhos…Com gravetos de sonho vĂŁo construindo
na terra, como no ar os passarinhos,
a esplĂŞndida ilusĂŁo de um mundo lindo,
entre beijos, sorrisos e carinhos…Nada tolda os seus olhos… Nem um vĂ©u…
Andam sem ver os lados, vendo o fim
e o fim que vĂŞem Ă© o azul do cĂ©u…Ah! se a gente, tal como namorados,
pudesse eternamente andar assim
pela vida a sonhar de braços dados!
Soneto De Criação
Deus te fez numa fĂ´rma pequenina
De uma argila bem doce e bem morena
Deu-te uns olhos minĂşsculos de china
Que parecem ter sempre um olhar de pena.Banhou-te o corpo numa fonte fina
Entre os rubores de uma aurora amena
E por criar-te assim, leve e pequena
Soprou-te uma alma calma, cálida e divina.Tão formosa te fez, tão soberana
Que dar-te aos anjos por irmĂŁ queria
Mas ao plasmar-te a carne prediletaDeus, comovido, te criara humana
E para tua justa moradia
Atirou-te nos braços do poeta.
A Dor
Torva Babel das lágrimas, dos gritos,
Dos soluços, dos ais, dos longos brados,
A Dor galgou os mundos ignorados,
Os mais remotos, vagos infinitos.Lembrando as religiões, lembrando os ritos,
Avassalara os povos condenados,
Pela treva, no horror, desesperados,
Na convulsão de Tântalos aflitos.Por buzinas e trompas assoprando
As gerações vão todas proclamando
A grande Dor aos frĂgidos espaços…E assim parecem, pelos tempos mudos,
Raças de Prometeus titânios, rudos,
Brutos e colossais, torcendo os braços!