Sonetos sobre Cantores

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Sonetos de cantores escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Ars Poética

Nesse afago do meu fado afogado
as águas já me sabem nadador.
A rĂŞs na travessia marejada
gado da grei de um mar revelador.

Vou e volto lambendo o sal do fardo
lĂ­ngua no labirinto, ardendo em cor
furtiva, enquanto messe temperada,
da tribo das palavras sou cantor.

Procuro em frio exílio tipográfico
o verbo mais sonoro em melodia
o ritmo para a cal de um pasto cáustico.

Sou boi e sou vaqueiro dia a dia
no laço entrelaçado fiz-me prático
catador de capins nas pradarias.

Vem Despontando A Aurora, A Noite Morre

Vem despontando a aurora, a noite morre,
Desperta a mata virgem seus cantores,
Medroso o vento no arraial das flores
Mil beijos furta e suspirando corre.

Estende a névoa o manto e o val percorre,
Cruzam-se as borboletas de mil cores,
E as mansas rolas choram seus amores
Nas verdes balsas onde o orvalho escorre.

E pouco a pouco se esvaece a bruma,
Tudo se alegra à luz do céu risonho
E ao flĂłreo bafo que o sertĂŁo perfuma.

Porém minh’alma triste e sem um sonho
Murmura olhando o prado, o rio, a espuma:
Como isto Ă© pobre, insĂ­pido, enfadonho!

Soneto De Vinicius Dedicado A Neruda

Quantos caminhos nĂŁo fizemos juntos
Neruda, meu irmão, meu companheiro…
Mas este encontro sĂşbito, entre muitos
NĂŁo foi ele o mais belo e verdadeiro?

Canto maior, canto menor – dois cantos
Fazem-se agora ouvir sob o cruzeiro
E em seu recesso as cĂłleras e os prantos
Do homem chileno e do homem brasileiro

E o seu amor – o amor que hoje encontramos…
Por isso, ao se tocarem nossos ramos
Celebro-te ainda além, cantor geral

Porque como eu, bicho pesado, voas
Mas mais alto e melhor do céu entoas
Teu furioso canto material!

A Uma Dama Dormindo Junto A Uma Fonte

Ă€ margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasiĂŁo das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme SĂ­lvia, nĂŁo vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silĂŞncio entre as flores,
Calava o mar, e rio nĂŁo se ouvia,

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a SĂ­lvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.

Desponta A Estrela D’alva, A Noite Morre.

Desponta a estrela d’alva, a noite morre.
Pulam no mato alĂ­geros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.

VolĂşvel tribo a solidĂŁo percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo Ă© luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flĂłreo bafo que o sertĂŁo perfuma!

Porém minh’alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
– Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Os Castrados

Há muitos tipos de castrados.
Há os da casta de cantores
que se afinam na voz mais fina
aleijões de seus dissabores.

Há os de vida feminina
de tarefas vis sem pudores
aios de haréns de concubinas
os assexuados sem rumores.

São todos eunucos forçados
vĂ­timas do mando de autores:
os sultões de sanha assassina
que gozam no estertor das dores.

Castrados morais tĂŞm escrotos,
mas gozam com sexo dos outros.