Mestre, Mestre Querido, Pai De Amor
Mestre, Mestre querido, Pai de Amor,
As glĂłrias que conquistas co’a razĂŁo,
Enchendo de prazer teu coração
T’atraem grandes bençãos do Senhor!Os teus louros tĂŞm mais vivo fulgor,
Que os ganhos ao ribombo do canhĂŁo;
Que os de um AnĂbal, d’um NapoleĂŁo,
Alcançados das mortes entre o horror.Sim! Que os louros terrĂveis que Mavorte
Ao soldado concede em dura guerra,
Todos murcha a idéia só da morte!Mas nos teus vero mérito se encerra,
Que não cede do tempo ao braço forte,
E alcançam justo prĂŞmio alĂ©m da terra!…
Sonetos de Castro Alves
10 resultados5A E 6A Sombras – Cândida E Laura
Como no tanque de um palácio mago,
Dous alvos cisnes na bacia lisa,
Como nas águas que o barqueiro frisa,
Dous nenúfares sobre o azul do lago,Como nas hastes em balouço vago
Dous lĂrios roxos que acalenta a brisa,
Como um casal de juritis que pisa
O mesmo ramo no amoroso afago….Quais dous planetas na cerĂşlea esfera,
Como os primeiros pâmpanos das vinhas,
Como os renovos nos ramais da hera,Eu vos vejo passar nas noites minhas,
Crianças que trazeis-me a primavera…
Crianças que lembrais-me as andorinhas! …
Mancebos! De Mil Louros Triunfantes
Mancebos! De mil louros triunfantes
Adornai o Moisés da mocidade,
O Anjo que nos guia da verdade
Pelos doces caminhos sempre ovantes.Coroai de grinaldas verdejantes
Quem rompeu para a Pátria nova idade,
Guiando pelas leis sĂŁs da amizade
Os moços do progresso sempre amantes.Vê, Brasil, este filho que o teu nome
Sobre o mapa dos povos ilustrados
Descreve qual o forte de VendĂ´me.Conhece que os Andradas e os Machados,
Que inda vivem nas asas do renome
Não morrem nestes céus abençoados;
2A Sombra – Bárbara
Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes nĂveos em lábios tĂŁo vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;Um dorso de ValquĂria… alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tĂŁo vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e mĂşsicas respira…
No lábio – um beijo… no beijar – um hino;Harpa eĂłlia a esperar que o vento a fira,
– Um pedaço de mármore divino…
– É o retrato de Bárbara – a Hetaira.
3A Sombra – Ester
Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!
Enrola-te na longa cachemira,
Como as judias moles do Levante,Alva a clâmide aos ventos – roçagante…
TĂşmido o lábio, onde o saltĂ©rio gira…
Ă“ musa de Israel! pega da lira…
Canta os martĂrios de teu povo errante!Mas nĂŁo… brisa da pátria alĂ©m revoa,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir… e parte… e voa. . .Qual nas algas marinhas desce um astro…
Linda Ester! teu perfil se esvai… s’escoa…
SĂł me resta um perfume… um canto… um rastro…
Aqui, Onde O Talento Verdadeiro
Aqui, onde o talento verdadeiro
NĂŁo nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no pĂşblico respeito
Se conquista o brasĂŁo mais lisonjeiro.Aqui onde o gĂŞnio sobranceiro
E, de torpes calĂşnias, ao efeito,
JesuĂna, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!Repara como o povo te festeja…
VĂŞ como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mĂŁo, que, oculta, te apedreja!Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif’rente ao regougar da inveja,
“Das almas grandes a nobreza Ă© esta.”
4A Sombra – FabĂola
Como teu riso dĂłi… como na treva
Os lĂŞmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pássaro maldito,
Que em sânie de cadáveres se ceva!Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito…
FabĂola!… É teu nome!… Escuta Ă© um grito,
Que lacerante para os cĂ©us s’eleva!…E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores…É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue Ă© meu sangue… Ă© meu… Desgraça!
8A Sombra – Ăšltimo Fantasma
Quem Ă©s tu, quem Ă©s tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada…
Sobre as nĂ©voas te libras vaporoso …Baixas do cĂ©u num vĂ´o harmonioso!…
Quem Ă©s tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, Ăł ser misterioso! …Onde nos vimos nĂłs? És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?Quem Ă©s tu? Quem Ă©s tu? – És minha sorte!
És talvez o ideal que est’alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!
7A Sombra – Dulce
Se houvesse ainda talismĂŁ bendito
Que desse ao pântano – a corrente pura,
Musgo – ao rochedo, festa – Ă sepultura,
Das águias negras – harmonia ao grito…,Se alguĂ©m pudesse ao infeliz precito
Dar lugar no banquete da ventura…
E tocar-lhe o velar da insĂ´nia escura
No poema dos beijos – infinito…,Certo. . . serias tu, donzela casta,
Quem me tomasse em meio do Calvário
A cruz de angústias que o meu ser arrasta!. . .Mas ,se tudo recusa-me o fadário,
Na hora de expirar, Ăł Dulce, basta
Morrer beijando a cruz de teu rosário!…
1A Sombra – Marieta
Como o gĂŞnio da noite, que desata
O véu de , rendas sobre a espádua nua,
Ela solta os cabelos… Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prataO seio virginal que a mão recata,
Embalde o prende a mĂŁo… cresce, flu
Sonha a moça ao relento… AlĂ©m na
Preludia um violĂŁo na serenata!…… Furtivos passos morrem no lajedo…
Resvala a escada do balcĂŁo discreta…
Matam lábios os beijos em segredo…Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta…