Obrigada!
A Nininha Andrade
… E tu rezas por mim! Como agradeço
Essa esmola gentil de teu carinho…
Como as torturas de minh’alma esqueço
Nessa tua oração, floco de arminho!Eu te bendigo, ó santa que estremeço,
Alma tĂŁo pura como a flor do linho.
à tua prece à mågoa que padeço
Asa de pomba defendendo um ninho!Reza, criança! Junta as mãos nevadas
E cerra as nĂveas pĂĄlpebras amadas
Sobre os teus olhos como um lindo vĂ©u…Depois, nas asas de uma prece ardente,
Deixa cantar minh’alma docemente,
Deixa subir meu coração ao céu!
Sonetos sobre CĂ©u de Auta de Souza
18 resultadosRegina Martyrum
LĂrio do CĂ©u, sagrada criatura,
Mãe das crianças e dos pecadores,
Alma divina como a luz e as flores
Das virgens castas a mais casta e pura;Do Azul imenso, d’essa imensa altura
Para onde voam nossas grandes dores,
Desce os teus olhos cheios de fulgores
Sobre os meus olhos cheios de amargura!Na dor sem termo pela negra estrada
Vou caminhando a sĂłs, desatinada,
– Ai! pobre cega sem amparo ou guia! –SĂȘ tu a mĂŁo que me conduza ao porto…
Ă doce mĂŁe da luz e do conforto,
Ilumina o terror d’esta agonia!
Bendita
Bendita sejas, minha mĂŁe, bendito
Seja o teu seio, imaculado e santo,
Onde derrama as gotas de seu pranto
Meu dolorido coração aflito.à minha mãe, ó anjo sacrossanto,
Bendito seja o teu amor, bendito!
Ouve do CĂ©u o amargurado grito
Cheio da dor de quem soluça tanto.E deixa que repouse em teus joelhos
A minha fronte, ouvindo os teus conselhos
Longe do mundo, ó sempiterna dita!Envia lå do céu no teu sorriso
A morte que levou-te ao ParaĂso…
Bendita sejas, minha mĂŁe, bendita!
Doente
A lua veio… foi-se… e em breve ainda,
HĂĄ de voltar, a doce lua amada,
Sem que eu a veja, a minha fada linda,
Sem que eu a veja, a minha boa fada.Ela hå de vir, Ofélia desmaiada,
Sob as nuvens do céu na alvura infinda
Do seu branco roupĂŁo, noiva gelada,
Boiando Ă flor de um rio que nĂŁo finda.Ela hĂĄ de vir, sem que eu a veja… Entanto,
Com que tristezas e saudoso encanto
Choro estas noites que passando vĂŁo…Ă lua! mostra-me o teu rosto ameno:
Olha que murcha Ă falta de sereno
O lĂrio roxo do meu coração!
Never More – II
Ah! se eu pudesse nunca ver teu rosto!
E nem sequer o som de tua fala
Ouvir de manso Ă hora do Sol posto
Quando a Tristeza jĂĄ do CĂ©u resvala!Talvez assim o fĂșnebre desgosto
Que eternamente a alma me avassala
Se transformasse n’um luar de Agosto,
Sonho perene que a Ventura embala.Talvez o riso me voltasse Ă boca
E se extinguisse essa amargura louca
De tanta dor que a minha vida junca…E, entĂŁo, os dias de prazer voltassem
E nunca mais os olhos meus chorassem…
Ah! se eu pudesse nunca ver-te, nunca!
Celeste
A uma criança
Eu fiz do Céu azul minha esperança
E dos astros dourados meu tesouro…
Imagina por que, doce criança,
Nas noites de luar meus sonhos douro!Adivinha, se podes, quanto Ă© mansa
A luz que bola sob um cĂlio de ouro.
E como é lindo um laço azul na trança
Embalsamada de um cabelo louro!Imagina por que peço, na morte,
– Um esquife todo azul que me transporte,
Longe da terra, longe dos escolhos…Imagina por que… mas, lĂrio santo!
Não digas a ninguém que eu amo tanto
A cor de teu cabelo e dos teus olhos!
Tudo O Que Ă Puro, Santo E Resplendente
Tudo o que Ă© puro, santo e resplendente,
N’este mundo cruel de desenganos,
Toda a ventura dos primeiros anos
N’um’alma que desabrocha sorridente;Tudo o que ainda vemos de potente
Na vastidĂŁo sem fim dos oceanos,
E da terra nos prantos soberanos
Trazidos pela aurora refulgente;Tudo o que desce do infinito ousado:
O sol, a brisa, o orvalho prateado,
A luz do amor, do bem, das esperanças;Tudo, afinal, que vem do Céu dourado
A despertar o coração magoado,
– Deus encerrou nos olhos das crianças!
Ă MemĂłria De Uma Ave
Quando morre uma criança,
Diz-se que o pĂĄlido anjinho
Voou como uma esperança.
Foi para o céu direitinho.Mas nossa mente se cansa
A voar de ninho em ninho,
Interrogando a lembrança,
Quando morre um passarinho.Só eu, se alguém diz que a vida
De uma avesinha querida
Se extingue como um clarĂŁo.Ponho-me a rir, pois, divina!
Ouço cantar, em surdina,
Tu’alma em meu coração.
Caminho Do SertĂŁo
A meu irmĂŁo JoĂŁo Cancio
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
VĂȘ-la atravĂ©s da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nĂłs dois, meu pobre irmĂŁo, sozinhos!Ă noite jĂĄ. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos…
Vamos mais devagar… de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a Noite ensina ao desespero e a dor…Ao longe, a Lua vem dourando a treva…
TurĂbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.
Ao PĂ© Do TĂșmulo
Aos meus
Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes e despedaçadas;
Eis o repouso, enfim; e o sono amigo
JĂĄ vem cerrar-me as pĂĄlpebras cansadas.Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vĂłs… Almas amadas
Que soluças por mim, eu vos bendigo,
Ă almas de minh’alma abençoadas.Quando eu d’aqui me for, anjos da guarda,
Quando vier a morte que nĂŁo tarda
Roubar-me a vida para nunca mais…Em pranto escrevam sobre a minha lousa:
“Longe da mĂĄgoa, enfim, no cĂ©u repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais”.
Eterna Dor
Alma de meu amor, lĂrio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.Ă minha mĂŁe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do CĂ©u nĂŁo tĂȘm espinhos,
Quero ir contigo, Ăł lĂrio meu celeste!Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me Ă terra onde nĂŁo corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…Aqui na vida – que tamanha mĂĄgoa! –
O prĂłprio olhar de Deus encheu-se d’ĂĄgua…
Ă minha mĂŁe, como este mundo Ă© triste!
Clarisse
“NĂŁo sei o que Ă© tristeza,” ela me disse…
E a sua boca virginal sorria:
Ninho de estrelas, concha de ambrosia
Cheia de rosas que do CĂ©u caĂsse!E eu docemente murmurei: Clarisse,
SerĂĄ possĂvel que tu’alma fria
Ouvindo o choro da Melancolia
O ressĂĄbio do fel nunca sentisse?SerĂĄ possĂvel que o teu seio, rosa,
Nunca embalasse a lĂĄgrima formosa?
Ah! não és rosa, pois não tens espinho!E os olhos teus, dois templos de esperança,
Nunca viram sofrer uma criança,
Nunca viram morrer um passarinho!
Meu Pai
A Eloy
Desce, meu Pai, a noite baixou mansa.
Nem uma nuvem se vĂȘ mais no cĂ©u:
Aninharam-se aqui no peito meu,
Onde, chorando, a negra dor descansa.Quando morreste eu era bem criança,
Balbuciava, sim, o nome teu,
Mas d’este rosto santo que morreu
JĂĄ nĂŁo conservo a mĂnima lembrança.A noite Ă© clara; e eu, aqui sentada,
Tenho medo da lua embalsamada,
Corta-me o frio a alma comovida.Se lå no Céu teu coração padece,
Vem comigo rezar a mesma prece:
Tua bĂȘnção, meu pai, me darĂĄ vida!
Noite Cruel
A meu irmĂŁo Henrique
Morrer… morrer… morrer… Fechar na terra os olhos
A tudo o que se ama, a tudo o que se adora;
E nunca mais ouvir a mĂșsica sonora
Da ilusĂŁo a cantar da vida nos refolhos…Sentir o coração ferir-se nos escolhos
De tormentoso mar, – pobre vaga que chora! –
E no arranco final da derradeira hora,
Soluçando morrer num oceano de abrolhos.Nem ao menos beijar – Ăł supremo desgosto! –
A mĂŁo doce e fiel que nos enxuga o rosto
Mostrando-nos o CĂ©u suspenso de uma Cruz…E perguntar a Deus na agonia e nas trevas:
Onde fica, Senhor, a terra a que nos levas,
Com as mĂŁos postas no seio e os dois olhos sem luz?!
Irineu
Num dia turvo assim foi que partiste
Cheio de dor e de tristeza cheio.
Eu fiquei a chorar num doido anseio
Olhando o espaço merencório, triste.Não sei se mågoa mais profunda existe
Que esta saudade que me oprime o seio,
Pois a amargura que ferir-me veio
Naquele dia, Ăł meu irmĂŁo! persiste.Os anos que se foram! Entanto, eu cismo
A todo o instante, no profundo abismo
Que veio a morte entre nĂłs dois abrir.Mas cada noite, n’asa de uma prece,
Ou num raio de sol quando amanhece,
Vejo tu’alma para o cĂ©u subir…
Noemi
Eu quisera saber em que ela pensa,
Esta mimosa e santa criatura
Quando indeciso o seu olhar procura
Alguma estrela pelo Azul suspensa;E que tristeza, indefinida, imensa,
Do seu olhar na flama, ardente e pura,
Intérmina e suave se condensa
Como as brumas no Céu em noite escura.Pobre criança! Que infinita mågoa
Punge-te o seio e te anuvia os olhos
– Benditos olhos sempre rasos d’ĂĄgua! –Choras… E o mundo te oferece flores…
Deixa os espinhos, lĂĄgrimas e abrolhos,
Só para mim, que só conheço dores!
Lydia
A Esther
Feliz de quem se vai na tua idade,
Murmura aquele que nĂŁo crĂȘ na vida,
E nĂŁo pensa sequer na mĂŁe querida
Que te contempla cheia de saudade.Pobre inocente! Se alegrar quem hĂĄ-de
Com tua sorte, rosa empalidecida!
Branca açucena inda em botĂŁo, caĂda,
O que irĂĄs tu fazer na eternidade?Foges da terra em busca de venturas?
Mas, meu amor, se conseguires tĂȘ-las,
De certo, nĂŁo serĂĄ nas sepulturas.Fica entre nĂłs, irmĂŁ das andorinhas:
Deus fez do CĂ©u a pĂĄtria das estrelas,
Do olhar das mĂŁes o CĂ©u das criancinhas.
Mistério
Ă memĂłria do pequeno Alberto.
Sei que tu’alma carinhosa e mansa
Voou, sorrindo, para o Azul celeste;
Sei que teu corpo virginal descansa
Aqui da terra n’um cantinho agreste.Tudo isto sei: mas tu nĂŁo me disseste
Se lå no Céu, na påtria da Esperança,
Ou aqui no mundo, Ă sombra do cipreste,
Deixaste o coração, loura criança!Desceu acaso com o corpo à terra
Ele tĂŁo puro e que sĂł luz encerra?
NĂŁo creio n’isso e ninguĂ©m crĂȘ de certo…Entanto, eu cismo que, num vale ameno,
Talvez o seio de um jasmim pequeno
Sirva de berço ao coração de Alberto.