Sonetos sobre CĂ©u de Francisco Joaquim Bingre

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Sonetos de céu de Francisco Joaquim Bingre. Leia este e outros sonetos de Francisco Joaquim Bingre em Poetris.

Morte

Num imenso salĂŁo, alto e rotundo,
De caveiras iguais, ossos sem dono,
Perpétua habitação de eterno sono
Que tem por tecto o CĂ©u, por base o mundo:

Bem no meio, em silĂŞncio o mais profundo,
Se levanta da Morte o fatal trono:
Ceptros sem rei, arados sem colono,
SĂŁo os degraus do sĂłlio furibundo.

Lanças, arneses pelo chão, quebrados,
Murchas grinaldas, báculos partidos,
Liras de vates, pastoris cajados,

Algemas, ferros e brasões luzidos,
No terrĂ­vel salĂŁo sĂŁo misturados,
No palácio da Morte confundidos.

JuĂ­zo

Quando, nos quatro ângulos da Terra,
Troarem as trombetas ressurgentes,
Despertadoras dos mortais dormentes,
Por onde um Deus irado aos homens berra:

Prontos, num campo, em apinhada serra,
Todos nus assistir devem viventes
Ao JuĂ­zo Final e ver, patentes,
Seus delitos, que um livro eterno encerra.

EntĂŁo, aberto o CĂ©u, e o Inferno aberto,
Todos ali verĂŁo: e a sorte imensa
Duma mágoa sem fim, dum gozo certo.

VerĂŁo recto juiz pesar a ofensa
Na balança integral, e o justo acerto,
Dando da vida e morte igual sentença.