Sem um Filho te Apagarás no Poente
A luz real ergueu-se a oriente
com a coroa de fogo na cabeça:
e o nosso olhar, vassalo obediente,
ajoelha ante a visão que recomeça.Enquanto sobe, Sua Majestade,
a colina do céu a passos de oiro,
adoramos-lhe a adulta mocidade
que fulge com as chamas dum tesoiro.Mas quando o carro fatigado alcança
o cume e se despenha pela tarde,
desviamos os olhos já sem esperança:no crepúsculo estéril nada arde.
Assim tu, meio dia ainda ardente,
sem um filho te apagarás no poente.Tradução de Carlos de Oliveira
Sonetos sobre CĂ©u de William Shakespeare
3 resultadosComparar-te a um Dia de VerĂŁo?
Comparar-te a um dia de verĂŁo?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor Ă s mĂŁos do furacĂŁo,
o foral do verão que chega ao fim.Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.Mas juro-te que o teu humano verĂŁo
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vĂŞ e que respira,
te verá respirar na minha lira.Tradução de Carlos de Oliveira
Ah, que Olhos PĂ´s Amor na Minha Cara
Ah, que olhos pĂ´s Amor na minha cara
mas sem correspondĂŞncia a fiel vista?
Ou se a tĂŞm, meu juĂzo onde Ă© que pára
que em tĂŁo falsas censuras inda insista?Se Ă© belo o que meus olhos falso adoram
que quer dizer o mundo em negação?
E se nĂŁo Ă©, amor mostra se goram
seus olhos, menos fiéis que os homens: não,como pode? Como pode, se pranto
e espera o afectam, ser fiel no olhar?
De erros da minha vista não me espanto,o sol não vê até o céu limpar.
Manhoso amor, com choros pões-me cego,
mas vendo bem, a tuas faltas chego.