O Lamento Das Coisas
Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da Energia abandonada!É a dor da Força desaproveitada
– O cantochĂŁo dos dĂnamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
jazem ainda na estática do Nada!É o soluço da forma ainda imprecisa…
Da transcendĂŞncia que se nĂŁo realiza…
Da luz que nĂŁo chegou a ser lampejo…E Ă© em suma, o subconsciente ai formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!
Sonetos sobre Choro de Augusto dos Anjos
4 resultadosHino À Dor
Dor, saĂşde dos seres que se fanam,
Riqueza da alma, psĂquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam..És suprema! Os meus átomos se ufanam
De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
Com os corpúsculos mágicos do tacto
Prendo a orquestra de chamas que executas…E, assim, sem convulsĂŁo que me alvorece,
Minha maior ventura Ă© estar de posse
De tuas claridades absolutas!
Soneto
N’augusta solidĂŁo dos cemitĂ©rios,
Resvalando nas sombras dos ciprestes,
Passam meus sonhos sepultados nestes
Brancos sepulcros, pálidos, funéreos.São minhas crenças divinais, ardentes
– Alvos fantasmas pelos merencĂłrios
TĂşmulos tristes, soturnais, silentes,
Hoje rolando nos umbrais marmóreos.Quando da vida, no eternal soluço,
Eu choro e gemo e triste me debruço
Na lájea fria dos meus sonhos pulcros.Desliza então a lúgubre coorte,
E rompe a orquestra sepulcral da morte,
Quebrando a paz suprema dos sepulcros.
Soneto
Senhora, eu trajo o luto do passado,
Este luto sem fim que é o meu Calvário
E anseio e choro, delirante e vário,
Sonâmbulo da dor angustiado.Quantas venturas que me acalentaram!
Mau peito, tĂşm’lo do prazer finado,
Foi outrora do riso abençoado,
O berço onde as venturas se embalaram.Mas não queiras saber nunca, risonha,
O mistĂ©rio d’um peito que estertora
E o segredo d’um’alma que nĂŁo sonha!NĂŁo, nĂŁo busques saber por que, Senhora,
É minha sina perenal, tristonha
– Cantar o Ocaso quando surge a Aurora.