Sonetos sobre Confusão de Cláudio Manuel da Costa

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Sonetos de confusão de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

XVI

Toda a mortal fadiga adormecia
No silĂŞncio, que a noite convidava;
Nada o sono suavĂ­ssimo alterava
Na muda confusĂŁo da sombra fria:

SĂł Fido, que de amor por Lise ardia,
No sossego maior nĂŁo repousava;
Sentindo o mal, com lágrimas culpava
A sorte; porque dela se partia.

VĂŞ Fido, que o seu bem lhe nega a sorte;
Querer enternecĂŞ-na Ă© inĂştil arte;
Fazer o que ela quer, Ă© rigor forte:

Mas de modo entre as penas se reparte;
Que Ă  Lise rende a alma, a vida Ă  morte:
Por que uma parte alente a outra parte.

LI

Adeus, Ă­dolo belo, adeus, querido,
Ingrato bem; adeus: em paz te fica;
E essa vitĂłria mĂ­sera publica,
Que tens barbaramente conseguido.

Eu parto, eu sigo o norte aborrecido
De meu fado infeliz: agora rica
De despojos, a teu desdém aplica
O rouco acento de um mortal gemido.

E se acaso alguma hora menos dura
Lembrando-te de um triste, consultares
A série vil da sua desventura;

Na imensa confusĂŁo de seus pesares
Acharás, que ardeu simples, ardeu pura
A vĂ­tima de uma alma em teus altares.