Sonetos sobre Coragem

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Sonetos de coragem escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Prece

Bendita sejas tu em meu caminho!
Bendita sejas tu, pela coragem
com que fizeste de um amor selvagem
esse amor que se humilha ao teu carinho!

Bendita sejas, porque a tua imagem
suaviza toda angústia e todo espinho…
Já não maldigo a insipidez da viagem,
nem me sinto só, nem vou sozinho…

Bendita sejas tantas vezes quantas
são as aves no céu; e são as plantas
na terra; e são as horas de emoção

em que juntos ficamos, de mĂŁos dadas,
como se nossas vidas irmanadas
vivessem por um mesmo coração!

Um Pássaro a Morrer

NĂŁo Ă© vida nem morte, Ă© uma passagem,
nem antes nem depois: somente agora,
um minuto nos tantos duma hora.
Uma pausa. Um intervalo. Uma viragem.

Prisioneira de mim, onde a coragem
de quebrar as algemas, ir-me embora,
se tudo o que em mim ria agora chora,
se já não me seduz outra viagem?

E nada disto é céu nem é inferno.
Tristeza, sĂł tristeza. Sol de Inverno,
sem uma flor a abrir na minha mĂŁo,

sem um bĂşzio a cantar ao meu ouvido.
SĂł tristeza, um silĂŞncio desmedido
e um pássaro a morrer: meu coração.

O Coração

Que jogo jogas, comédia ou lágrima? Cor
suspensa. ProdĂ­gio doendo. Enganador
relâmpago. Donde se enreda esta coragem
que chora ao riso e ri Ă  dor? Quatro sĂŁo

as pedras mestras do teu jogo. Dois cavalos
e os reis. MelancĂłlicos actores. Vazia, a
plateia. O tempo ferido. O peĂŁo fugitivo.
A emoção real do presságio. O aceno

cordial do outro lado do jogo. Inscrição
Ăşnica do pĂłlen, jogada que se arrasta.
Gota de tédio na lonjura das casas.

O fecho do jogo se conclui. Muda o rosto a
visĂŁo possĂ­vel. Cordato, o lance destrĂłi
a memória do que já não vejo ou sei.

Tempestade!

O meu beliche Ă© tal qual o bercinho,
Onde dormi horas que nĂŁo vĂŞm mais.
Dos seus embalos já estou cheiinho:
Minha velha ama sĂŁo os vendavaes!

Uivam os ventos! Fumo, bebo vinho.
O vapor treme! Abraço a Biblia, aos ais…
Covarde! Que dirá teu Avôzinho,
Que foi moreante? Que dirĂŁo teus Paes?

Coragem! Considera o que has soffrido,
O que soffres e o que ainda soffrerás,
E ve, depois, se accaso Ă© permittido

Tal medo á Morte, tanto apego ao mundo:
Ah! fôra bem melhor, vás onde vás,
Antonio, que o paquete fosse ao fundo!

Caminho

III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada…
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada…
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora!…

Cada um por seu lado!… Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar sĂł todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!…

Deixai-me chorar mais e beber mais,
perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar – encher a alma.

Caminho III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada…
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada…
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora!…

Cada um por seu lado!… Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar sĂł todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!…

Deixai-me chorar mais e beber mais,
Perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar – encher a alma.

Dois Ramos

É preciso coragem, meu amor.
para afinal reconhecer que vamos
nos afastar, assim como dois ramos,
que continuam dando a mesma flor…

Que importa a flor, no entanto, se nĂŁo damos
os mesmos sonhos de antes? Se o sabor
do fruto que ainda agora partilhamos
já se vai transformando em amargor?

É preciso coragem… Mas um dia
será preciso tê-la… Que a tenhamos!
NĂŁo vamos prolongar essa agonia

em que nossos desejos se desgastam…
Nosso destino… é o mesmo de dois ramos:
– quanto mais crescem… tanto mais se afastam…

Caminho

I

Tenho sonhos cruéis; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente…

Saudades desta dor que em vĂŁo procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!…

Porque a dor, esta falta d_harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque Ă© sĂł madrugada quando chora.

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quĂŞ, nem eu o sei.
d Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada Ă© maior indo sozinho

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!… Foi no entanto

Que choramos a dor de cada um…

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Pedra Tumular

A minha geração fugiu à guerra,
Por isso a paz que traz nĂŁo tem sentido:
É feita de ignorância e de castigo,
TĂŁo rĂ­gida e tĂŁo fria como a pedra.

Desfazem-se-lhe as mãos em gestos frágeis,
Duma verdade inĂştil por vazia,
E a lĂ­ngua imĂłvel nega o som Ă  vida,
Por hábito ou por falta de coragem.

Se há rumores lá de fora, às vezes, lembra:
Porque é que pulsa o coração do mundo,
Precipitado, angustioso, ardente?

Mas depressa submerge na indiferença
– Que lhe deram um túmulo seguro;
E o relógio dá-lhe horas certas, sempre.