A Musa Enferma
Ă“ minha musa, entĂŁo! que tens tu, meu amor?
Que descorada estás! No teu olhar sombrio
Passam fulgurações de loucura e terror;
Percorre-te a epiderme em fogo um suor frio.Esverdeado gnomo ou duende tentador,
Em teu corpo infiltrou, acaso, um amavio?
Foi algum sonho mau, visĂŁo cheia de terror,
Que assim te magoou o teu olhar macio?Eu quisera que tu, saudável e contente.
Só nobres idéias abrigasses na mente,
E que o sangue cristão, ritmado, te pulsaraComo do silabálirio antigo os sons variados,
Onde reinam, o par, os deuses decantados;
Febo — pai das canções, e Pã — senhor da seara!Tradução de Delfim Guimarães
Sonetos sobre Corpo de Charles Baudelaire
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A Giganta
No tempo em que a Natura, augusta, fecundanta,
Seres descomunais dava Ă terra mesquinha,
Eu quisera viver junto d’uma giganta,
Como um gatinho manso aos pĂ©s d’uma rainha!Gosta de assistir-lhe ao desenvolvimento
Do corpo e da razĂŁo, aos seus jogos terrĂveis;
E ver se no seu peito havia o sentimento
Que faz nublar de pranto as pupilas sensĂveisPercorrer-lhe a vontade as formas gloriosas,
Escalar-lhe, febril, as colunas grandiosas;
E Ă s vezes, no verĂŁo, quando no ardente soloEu visse deitar, numa quebreira estranha estranha,
Dormir serenamente Ă sombra do seu colo,
Como um pequeno burgo ao sopé da montanha!Tradução de Delfim Guimarães