Versos D’um Exilado
Eu vou partir. Na lĂmpida corrente
Rasga o batel o leito d’água fina
– Albatroz deslizando mansamente
Como se fosse vaporosa Ondina.Exilado de ti, oh! Pátria! Ausente
Irei cantar a mágoa peregrina
Como canta o pastor a matutina
Trova d’amor, Ă luz do sol nascente!NĂŁo mais virei talvez e, lá sozinho,
Hei de lembrar-me do meu pátrio ninho,
D’onde levo comigo a nostalgiaE esta lembrança que hoje me quebranta
E que eu levo hoje como a imagem santa
Dos sonhos todos que já tive um dia!
Sonetos sobre Correntes de Augusto dos Anjos
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No Campo
Tarde. Um arroio canta pela umbrosa
Estrada; as águas lĂmpidas alvejam
Com cristais. Aragem suspirosa
Agita os roseirais que ali vicejam.No alto, entretanto, os astros rumorejam
Um presságio de noute luminosa
E ei-la que assoma – a Louca tenebrosa,
Branca, emergindo Ă s trevas que a negrejam.Chora a corrente mĂşrmura, e, Ă dolente
Unção da noute, as flores também choram
Num chuveiro de pĂ©talas, nitente,Pendem e caem – os roseirais descoram
E elas bĂłiam no pranto da corrente
Que as rosas, ao luar, chorando enfloram.