No Mundo Poucos Anos, E Cansados
No mundo poucos anos, e cansados,
vivi, cheios de vil miséria dura;
foi-me tĂŁo cedo a luz do dia escura,
que nĂŁo vi cinco lustros acabados.Corri terras e mares apartados
buscando à vida algum remédio ou cura;
mas aquilo que, enfim, nĂŁo quer ventura,
não o alcançam trabalhos arriscados.Criou-me Portugal na verde e cara
pĂĄtria minha Alenquer; mas ar corruto
que neste meu terreno vaso tinha,me fez manjar de peixes em ti, bruto
mar, que bates na AbĂĄssia fera e avara,
tĂŁo longe da ditosa pĂĄtria minha!
Sonetos sobre Cura de LuĂs de CamĂ”es
5 resultadosO ferido Sem Ter Cura Perecia
O Ferido sem ter cura perecia
o forte e duro TĂ©lefo temido,
por aquele que n’ĂĄgua foi metido,
a quem ferro nenhum cortar podia.Ao ApolĂneo OrĂĄculo pedia
conselho para ser restituĂdo;
respondeu que tornasse a ser ferido
por quem o jĂĄ ferira, e sararia.Assi, Senhora, quer minha ventura
que, ferido de ver vos, claramente
com vos tornar a ver Amor me cura.Mas Ă© tĂŁo doce vossa fermosura,
que fico como hidrĂłpico doente,
que co beber lhe cresce mor secura.
Vossos Olhos, Senhora, Que Competem
Vossos olhos, Senhora, que competem
co Sol em fermosura e claridade,
enchem os meus de tal suavidade
que em lĂĄgrimas, de vĂȘ-los, se derretem.Meus sentidos vencidos se sometem
assi cegos a tanta majestade;
e da triste prisĂŁo, da escuridade,
cheios de medo, por fugir remetem.Mas se nisto me vedes por acerto,
o ĂĄspero desprezo com que olhais
torna a espertar a alma enfraquecida.Ă gentil cura e estranho desconcerto!
Que farĂĄ o favor que vĂłs nĂŁo dais,
quando o vosso desprezo torna a vida?
Vossos Olhos, Senhora, que Competem
Vossos olhos, Senhora, que competem
Com o Sol em beleza e claridade,
Enchem os meus de tal suavidade,
Que em lĂĄgrimas de vĂȘ-los se derretem.Meus sentidos prostrados se submetem
Assim cegos a tanta majestade;
E da triste prisĂŁo, da escuridade,
Cheios de medo, por fugir remetem.Porém se então me vedes por acerto,
Esse ĂĄspero desprezo com que olhais
Me torna a animar a alma enfraquecida.Oh gentil cura! Oh estranho desconcerto!
Que dareis c’ um favor que vĂłs nĂŁo dais,
Quando com um desprezo me dais vida?
Com Tornar-vos a Ver Amor me Cura
Ferido sem ter cura perecia
O forte e duro TĂ©lefo temido
Por aquele que na ĂĄgua foi metido,
E a quem ferro nenhum cortar podia.Quando a apolĂneo OrĂĄculo pedia
Conselho para ser restituĂdo,
Respondeu-lhe, tornasse a ser ferido
Por quem o jĂĄ ferira, e sararia.Assim, Senhora, quer minha ventura,
Que ferido de ver-vos claramente,
Com tornar-vos a ver Amor me cura.Mas Ă© tĂŁo doce vossa formosura,
Que fico como o hidrĂłpico doente,
Que bebendo lhe cresce mor secura.