O Mar, A Escada E O Homem
“Olha agora, mamĂfero inferior,
“A luz da epicurista ataraxia,
“O fracasso de tua geografia
“E de teu escafandro esmiuçador!“Ah! jamais saberás ser superior,
“Homem, a mim, conquanto ainda hoje em dia,
“Com a ampla hĂ©lice auxiliar com que outrora ia
“Voando ao vento o vastĂssimo vapor,“Rasgue a água hĂłrrida a nau árdega e singre-me!”
E a verticalidade da Escada Ăngreme:
“Homem, já transpuseste os meus degraus?!”E Augusto, o HĂ©rcules, o Homem, aos soluços,
Ouvindo a Escada e o Mar, caiu de bruços
No pandemĂ´nio aterrador do Caos!
Sonetos sobre Degraus
4 resultadosMorte
Num imenso salĂŁo, alto e rotundo,
De caveiras iguais, ossos sem dono,
Perpétua habitação de eterno sono
Que tem por tecto o CĂ©u, por base o mundo:Bem no meio, em silĂŞncio o mais profundo,
Se levanta da Morte o fatal trono:
Ceptros sem rei, arados sem colono,
São os degraus do sólio furibundo.Lanças, arneses pelo chão, quebrados,
Murchas grinaldas, báculos partidos,
Liras de vates, pastoris cajados,Algemas, ferros e brasões luzidos,
No terrĂvel salĂŁo sĂŁo misturados,
No palácio da Morte confundidos.
De Mayseder Gentil O Vulto Ingente
De Mayseder gentil o vulto ingente
De Corelli, de Spohr e de Nardini,
De Ole Bull supernal, de Veracini
Inspirados por Deus c’o plectro ardente;Dessa lira febril, áurea, potente
Do artista sem par, de Paganini;
De Viotti dinal, do herĂłi Tardini,
De Lafont, de Baillot, Eck e Laurenti:Sois rival feliz! e nesse crânio
Há em jorros, oh céus! extravasando
O ardor musical, o ardor titâneo…Já bem cedo, veloz, ides galgando
Lá da glória os degraus, o supedâneo
Sobre um trono de luz rindo e cantando.
I
Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada
Entre as estrelas trĂŞmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.E eu olhava-a de baixo, olhava-a… Em cada
Degrau, que o ouro mais lĂmpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
Ressoante de sĂşplicas, feria…Tu, mĂŁe sagrada! vĂłs tambĂ©m, formosas
Ilusões! sonhos meus! Ăeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.E, Ăł meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando…