Soneto XXXIIII
Buscando ando ventura e não dou nela,
A tudo só por ela me aventuro,
Mas por mais que acho tudo, em vão procuro
Que só de tudo, em tudo me falta ela.Se para vê-la velo, também vela
E vai de mim fugindo pelo escuro,
Eu pelo escuro a sigo assaz seguro
Como quem a não tem para perdê-la.Mas ai, que digo, como não conheço
A ventura que sem ventura alcanço,
Que mor ventura que não ter ventura.Fora ventura então de pouco preço
E tempo, mas faltando a meu descanso,
Achei ventura em vós, que sempre dura.
Sonetos sobre Descanso de Vasco Mouzinho de Quebedo
2 resultados Sonetos de descanso de Vasco Mouzinho de Quebedo. Leia este e outros sonetos de Vasco Mouzinho de Quebedo em Poetris.
Soneto XXXXI
Quando as cerúleas ondas no mar alto,
Co’ a branda viração quieto e manso,
Que empolando-se vão de lanço em lanço,
Prognosticam dos ventos bravo assalto,Os Delfins, com ligeiro e leve salto,
Buscam do melhor porto o mor descanso,
Passando a tempestade em seu remanso
Já livres de temor e sobressalto.O bravo mar, é este bravo mundo,
Os Delfins, todos nós que nele andamos,
As religiões, seguros mansos portos.Para eles deste mar nos acolhamos,
Antes que em seu abismo alto e profundo
Soçobrados fiquemos, despois mortos.