Quem?
Não sei quem és. Já não te vejo bem…
E ouço-me dizer (ai, tanta vez!…)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?…
– Não sei se tu, amor, assim me vês!…
Nossos olhos não são nossos, talvez…
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!…És tudo e não és nada… És a desgraça…
És quem nem sequer vejo; és um que passa…
És sorriso de Deus que não mereço…És aquele que vive e que morreu…
És aquele que é quase um outro eu…
És aquele que nem sequer conheço…
Sonetos sobre Desgraças de Florbela Espanca
2 resultados Sonetos de desgraças de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.
A Voz da TĂlia
Diz-me a tĂlia a cantar: “Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça,
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera…E de manhã o sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça…
Trago nas mãos as mãos da Primavera…
E é para mim que em noites de desgraçaToca o vento Mozart, triste e solene,
E Ă minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine…”E, ao ver-me triste, a tĂlia murmurou:
“Já fui um dia poeta como tu…
Ainda hás de ser tĂlia como eu sou…”