Soneto VIII – O Tempo
Deus pede estrita conta de meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?Para ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bem tempo e nĂŁo foi conta.
NĂŁo quis sobrando tempo fazer conta,
Quero hoje fazer conta e falta tempo.Oh! vĂłs que tendes tempo sem ter conta
NĂŁo gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto Ă© tempo em fazer conta.Mas, oh! se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta,
NĂŁo choravam como eu o nĂŁo ter tempo.
Sonetos sobre Deus de Laurindo Rabelo
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Soneto VI – Ă€ Mesma Senhora
TĂŁo doce como o som da doce avena
Modulada na clave da saudade;
Como a brisa a voar na soledade,
Branda, singela, lĂmpida e serena;Ora em notas de gozo, ora de pena,
Já cheia de solene majestade,
Já lânguida exprimindo piedade,
Sempre essa voz Ă© bela, sempre amena.Mulher, do canto teu no dom supremo
A dádiva descubro mais subida
Que de um Deus pode dar o amor paterno.E minh’alma, num ĂŞxtase embebida,
Aos teus lábios deseja um canto eterno,
E, só para gozá-lo, eterna a vida.