Soneto XXII
Ao mesmo
Rico Almazém, que Deus estima e preza,
Mais forte que o poder do inferno forte,
Bem te armas de ua morte e de outra morte,
Para qualquer encontro e brava empresa.Arma-se o fraco cá de fortaleza
Para que assi resista ao duro corte;
Mas Deus sempre peleja d’outra sorte,
Cobrindo o forte de mortal fraqueza.Usou c’o inferno deste próprio modo,
Iscando o anzol da natureza sua
Co’ a nossa; e foi-se o pece trás o engano.E co’ as armas da carne rota e nua
Dos Mártires venceu o mundo todo,
Hoje em ti as põem para socorro humano.
Sonetos sobre Deus de Vasco Mouzinho de Quebedo
3 resultadosSoneto XXXXII
Dai-me razão, Baptista, que conclua
Porque sois voz que no deserto brada,
Se Deus tem já sua palavra dada
De a seu filho chamar palavra sua.E não é bem que se vos atribua
Nome que a Deus para seu filho agrada.
Quanto ua confissão desenganada
Obrou, temo esta voz tanto destrua.Ah! quanto é seu ofício à voz conforme,
Desperta a voz, mas a palavra fala,
Mil vezes com quem dorme usamos isto.Vem Deus falar c’o Mundo, e porque dorme
Primeiro a voz lhe manda que o abala,
O Baptista desperta, e fala Cristo.
Soneto XXXXIII
De ua grande Rainha do Oriente
Cante a fama por quanto o Sol rodea,
Que ao grande Salamão, Rei de Judea,
Trouxe a planta do bálsamo em presente.Um bálsamo melhor, mais excelente,
Outra maior Rainha nos granjea
Para curar ua firida fea
Que o mundo tem na parte que mais sente.Na face está firido e faz já termo,
Traz-lhe Maria o bálsamo divino
Do mesmo Deus em nossa humanidade.E como acode o médico ao enfermo
Antes que no seteno perca o tino,
Co’ este remédio vem na sexta idade.