Essa Que Eu Hei De Amar…
Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que Ă© o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.E quando ela passar, tudo o que eu nĂŁo sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado,
mas ias tĂŁo perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!”
Sonetos sobre Dia de Guilherme de Almeida
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Soneto IX
Nessa tua janela, solitário,
entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exĂlio, teu canário
canta, e eu sei que esse canto te consola.E, lá na rua, o povo tumultuário
ouvindo o canto que daqui se evola
crê que é o nosso romance extraordinário
que naquela canção se desenrola.Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,
calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.E eu chorarei. Teu pobre confidente
ensinou-me a chorar tĂŁo docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.