Fim do Dia
Aquieta-se o silĂȘncio na folhagem,
que em ĂĄrvores teceu amor antigo;
sobressalto transposto da viagem
que o dia rumoroso fez consigo.O coração, que é sombra na paisagem,
dĂĄ Ă s palavras vĂŁs outro sentido;
e Ă© murmĂșrio desfeito na aragem,
que do entardecer recolhe abrigo.Ares assim se fazem de uma luz
que torna como baço o sol poente;
e o coração à estrema se reduz,
como o dia se volve mais ausente.Recolhem-se as palavras no vagar
que dia nem fulgor nos podem dar.
Sonetos sobre Dia de LuĂs Filipe Castro Mendes
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CrĂtica da Poesia
Que a frenética poesia me perdoe
se a um baço rumor levanto o laço,
pois que verso nĂŁo hĂĄ onde nĂŁo soe
a mĂșsica discreta doutro espaço.Horizonte do verso Ă© a dureza:
jĂĄ mansidĂŁo nĂŁo cabe neste olhar
que se pousa na faca sobre a mesa
e aprende nela o fio do seu cantar.Mas se olhar nela pousa, como corta?
E se as palavras sabemos retomar,
quem nos devolve a chave dessa porta
onde a herança estå por encerrar?Tão longe estå de nós a poesia
como nuvem nos rouba a luz do dia.