Stella
A SebastiĂŁo Alves
“Eu sou fraca e pequena…”
Tu me disseste um dia,
E em teu lábio sorria
Uma dor tĂŁo serena,Que a tua doce pena
Em mim se refletia
– Profundamente fria,
– Amargamente amena!.Mas essa mágoa, Stella,
De golpe tĂŁo profundo,
Faz tu por esquece-la –Das vastidões no fundo
– É bem pequena a estrela –
– No entanto – a estrela Ă© um mundo!…
Sonetos sobre Dor de Euclides da Cunha
6 resultadosUm Soneto
A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lábio trêmulo, esplêndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espádua e devorou-te o seio.Depois, delĂrio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciência, a crença
Lancei no incĂŞndio dos olhares teus…Hoje estou pronto Ă lĂvida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada…
Já disse ontem à noite, adeus, a Deus!
A Flor Do Cárcere
Nascera ali – no limo viridente
Dos muros da prisĂŁo – como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola –
Aquela flor imaculada e olente…E ele que fĂ´ra um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvĂssima e silente!…E – ele – que sofre e para a dor existe –
Quantas vezes no peito o pranto estanca!..
Quantas vezes na veia a febre acalma,Fitando aquela flor tĂŁo pura e triste!…
– Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma…
Cenas De EscravidĂŁo
Acabara o castigo… áspero, cavo,
Cheio de angĂşstia um grito lancinante
Estala atroz na boca hirta, arquejante;
Na boca negra, esquálida do escravo…O seu algoz… oh! nĂŁo — Ăntimo travo
O seu olhar espelha — rubro, iriante…
É um escravo também, brônzeo, possante;
Arfa-lhe em dor o peito largo e bravo!Cumprira as ordens do Senhor… tremente,
Fita o infeliz, calcado ao chĂŁo, dolente,
Velado o olhar num dolorido brilho…Fita-o… depois, num Ămpeto sublime
Ergue-o; no peito cálido o comprime,
Cinge-o a chorar — Meu filho! pobre filho!
Comparação
“Eu sou fraca e pequena…”
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tĂŁo serena,Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Que em teus olhos fulgia.Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecê-la:Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela… e
E no entretanto – Ă© um mundo!
Robespierre
Alma inquebrável – bravo sonhador
De um fim brilhante, de um poder ingente,
De seu cérebro audaz, a luz ardente
É que gerava a treva do Terror!Embuçado num lĂvido fulgor
Su’alma colossal, cruel, potente,
Rompe as idades, lĂşgubre, tremente,
Cheia de glĂłrias, maldições e dor!Há muito que, soberba, ess’alma ardida
Afogou-se cruenta e destemida
– Num dilĂşvio de luz: Noventa e trĂŞs…Há muito já que emudeceu na histĂłria
Mas ainda hoje a sua atroz memĂłria
É o pesadelo mais cruel dos reis!…