Espasmos
Alma das gerações, alma lendária
Que tens tanto de Hamlet, tanto de Ofélia,
A candidez da rórida camélia
E as lágrimas da Sede hereditária.Alma dormente, tumultuosa, vária,
Acorde de harpa misteriosa e célia,
Virgindade selvagem de bromélia,
Alma do Eleito, do Plebeu, do Pária.És a chama do Amor, negro-vermelha,
De onde rompeu a fĂşlgida centelha
Que a Flor de fogo fez gerar no Dante.Com teus espasmos e delicadezas,
Nervosas e secretas sutilezas
Enches todo este Abismo soluçante!
Sonetos sobre Dormentes de Cruz e Souza
4 resultadosMonja
Ă“ Lua, Lua triste, amargurada,
Fantasma de brancuras vaporosas,
A tua nĂvea luz ciliciada
Faz murchecer e congelar as rosas.Nas flĂłridas searas ondulosas,
Cuja folhagem brilha fosforeada,
Passam sombras angélicas, nivosas,
Lua, Monja da cela constelada.Filtros dormentes dĂŁo aos lagos quietos,
Ao mar, ao campo, os sonhos mais secretos,
Que vĂŁo pelo ar, noctâmbulos, pairando…EntĂŁo, Ăł Monja branca dos espaços,
Parece que abres para mim os braços,
Fria, de joelhos, trĂŞmula, rezando…
Musica Misteriosa
Tenda de Estrelas nĂveas, refulgentes,
Que abris a doce luz de alampadários,
As harmonias dos Estradivarius
Erram da Lua nos clarões dormentes…Pelos raios fluĂdicos, diluentes
Dos Astros, pelos trêmulos velários,
Cantam Sonhos de mĂsticos templários,
De ermitões e de ascetas reverentes…Cânticos vagos, infinitos, aĂ©reos
Fluir parecem dos Azuis etéreos,
Dentre os nevoeiros do luar fluindo…E vai, de Estrela a Estrela, a luz da Lua,
Na láctea claridade que flutua,
A surdina das lágrimas subindo…
ApĂłs O Noivado
Em flácido divã ela resvala
Na alcova — bem feliz, alegremente,
E o fresco penteador alvinitente,
De nardo e benjoim o aroma exala.E o noivo todo amor, assim lhe fala,
Por entre vibrações do olhar ardente:
Pertences-me afinal, pomba dormente
Parece que a razĂŁo de gozo, estala.Mas eis — corre-se entĂŁo nĂvea cortina:
E a plácida, a ideal, a branca lua
Derrama nos vergĂ©is a luz divina…Depois… Oh! Musa audaz, ousada, e nua,
Não rompas esse véu de gaze fina
Que encerra um madrigal — Vamos… recua!…