A Inocência
Caminhando no mundo vai segura
A Inocência, com grave firme passo.
Sem temor de cair no infame laço
Que arma a traidora mão, a mão perjura.Como não obra mal, nem mal procura
Para os seus semelhantes, corre o espaço
Sem lança, sem arnês, sem peito de aço,
Armada só de consciência pura.Pois que ofensa não faz, não teme ofensa
E por isso passeia, satisfeita,
Sem as feras temer na selva densa.Traições, ódios, vinganças não espreita.
Certa no bem que faz, só nele pensa:
Quem remorsos não tem, mal não suspeita.
Sonetos sobre Espaço de Francisco Joaquim Bingre
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Inverno
Já na quarta estação final da vida
Estou, do triste Inverno rigoroso.
Fustigado do tempo borrascoso,
Co’a saraiva das asas sacudida.Gelada tenho a fronte encanecida,
O sangue frio, pálido e soroso.
Compresso está o físico nervoso
E a máquina de todo enfraquecida.Nesta quadra da fúnebre tristeza,
Que alegria terei na sombra escura,
Se enlutada se vê a Natureza?Só, c’os frutos da má agricultura,
Vago triste no espaço da incerteza
De que a Morte me dê melhor ventura.