Musa ImpassĂvel II
Ă Musa, cujo olhar de pedra, que nĂŁo chora,
Gela o sorriso ao lĂĄbio e as lĂĄgrimas estanca!
DĂĄ-me que eu vĂĄ contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o impassĂvel mora.Leva-me longe, Ăł Musa impassĂvel e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O ĂĄureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.Transporta-me de vez, numa ascensĂŁo ardente,
Ă deliciosa paz dos OlĂmpicos-Lares
Onde os deuses pagĂŁos vivem eternamente,E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os HerĂłis do grande mundo antigo.
Sonetos Exclamativos de Francisca JĂșlia da Silva
3 resultadosMusa ImpassĂvel I
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cĂąndido semblante!
Diante de um JĂł, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.Em teus olhos nĂŁo quero a lĂĄgrima; nĂŁo quero
Em tua boca o suave e idĂlico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.DĂĄ-me o hemistĂquio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;Versos que lembrem, com seus bĂĄrbaros ruĂdos,
Ora o ĂĄspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mĂĄrmores partidos.
Sonho Africano
Ei-lo em sua choupana. A lĂąmpada, suspensa
Ao teto, oscila; a um canto, um velho e ervado fimbo;
Entrando, porta dentro, o sol forma-lhe um nimbo
Cor de cinĂĄbrio em torno Ă carapinha densa.Estira-se no chĂŁo… Tanta fadiga e doença!
Espreguiça, boceja… O apagado cachimbo
Na boca, nessa meia escuridĂŁo de limbo,
Mole, semicerrando os dĂșbios olhos, pensa…Pensa na pĂĄtria, alĂ©m… As florestas gigantes
Se estendem sob o azul, onde, cheios de mĂĄgoa,
Vivem negros reptis e enormes elefantes…Calma em tudo. Dardeja o sol raios tranquilos…
Desce um rio, a cantar… Coalham-se Ă tona d’ĂĄgua
Em compacto apertĂŁo, os velhos crocodilos…