Natureza
Aos Poetas
Tudo por ti resplende e se constela,
Tudo por ti, suavĂssimo, flameja;
Ăs o pulmĂŁo da racional peleja,
Sempre viril, consoladora e bela.Teu coração de pérolas se estrela,
E o bom falerno dĂĄs a quem deseja
Vigor, saĂșde a crença que floreja,
Que as expansÔes do cérebro revela.Toda essa luz que bebe-se de um hausto
Nos livros sĂŁos, todo esse enorme fausto
Vem das verduras brandas que reluzem!Esse da idĂ©ia esplĂȘndido eletrismo,
O forte, o grande, audaz psicologismo,
Os organismos naturais produzem…
Sonetos sobre ExpansĂŁo
3 resultadosCorrespondĂȘncias
A natureza Ă© um templo augusto, singular,
Que a gente ouve exprimir em lĂngua misteriosa;
Um bosque simbolista onde a ĂĄrvore frondosa
VĂȘ passar os mortais, e segue-os com o olhar.Como distintos sons que ao longe vĂŁo perder-se,
Formando uma sĂł voz, de uma rara unidade,
Tem vasta como a noite a claridade,
Sons, perfumes e cor logram corresponder-seHĂĄ perfumes subtis de carnes virginais,
Doces como o oboé, verdes como o alecrim,
E outros, de corrupção, ricos e triunfaisComo o ùmbar e o musgo, o incenso e o benjoim,
Entoando o louvor dos arroubos ideais,
Com a larga expansĂŁo das notas d’um clarim.Tradução de Delfim GuimarĂŁes
Spleen
Fora, na vasta noute, um vento de procela
Erra, aos saltos, uivando, em rajadas e em fĂșria;
E num rumor de choro, uma voz de lamĂșria,
Ouço a chuva a escorrer nos vidros da janela.No desconforto do meu quarto de estudante,
Velo. Sinto-me como insulado da vida.
Eu imagino a morte assim, aborrecida
SolidĂŁo numa sombra infinita e constante…Tu, que Ă©s forte, rebrame em fĂșria, natureza!
Eu, caĂdo num fundo abismo de tristeza,
Invejo-te a expansão livre do temporal;E, no tédio feroz que me assalta e me toma,
Sinto ansiarem-me n’alma instintos de chacal…
E compreendo Nero incendiando Roma.