Mors – Amor
Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terrĂveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
NĂŁo sei que horror nas crinas agitadas?Um cavaleiro de expressĂŁo potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: “Eu sou a morte!”
Responde o cavaleiro: “Eu sou o Amor!”
Sonetos sobre Fantástico de Antero de Quental
3 resultadosVoz Interior
(A JoĂŁo de Deus)
Embebido n’um sonho doloroso,
Que atravessam fantásticos clarões,
Tropeçando n’um povo de visões,
Se agita meu pensar tumultuoso…Com um bramir de mar tempestuoso
Que até aos céus arroja os seus cachões,
AtravĂ©s d’uma luz de exalações,
Rodeia-me o Universo monstruoso…Um ai sem termo, um trágico gemido
Ecoa sem cessar ao meu ouvido,
Com horrĂvel, monĂłtono vaivĂ©m…SĂł no meu coração, que sondo e meço,
Não sei que voz, que eu mesmo desconheço,
Em segredo protesta e afirma o Bem!
IdĂlio
Quando nĂłs vamos ambos, de mĂŁos dadas,
Colher nos vales lĂrios e boninas,
E galgamos dum fĂ´lego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruĂnas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:Quantas vezes, de sĂşbito, emudeces!
NĂŁo sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalidecesO vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.