Sonetos sobre Farrapos

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Sonetos de farrapos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Noite do Roubo

A quem foram roubar os pobres trapos:
A mim, que sou humilde pobrezinho?
Olhem bem que o valor desses farrapos
EstĂĄ em ter minha avĂł fiado o linho.

Ó rocas a fiar, contos de fadas!
Eu tinha-lhes amor e a simpatia
Que vem das saudades de algum dia,
Longe, das velhas noites seroadas.

Bragais de minha casa, e as roupas feitas
Por mĂŁos de minha mĂŁe, muito me assusta
Que os tomassem perversas mĂŁos suspeitas.

Ah! mĂŁos do furto, olhai, trazei-me Ă  justa
Os meus linhos — suor dumas colheitas —
E amor dos meus que a mim muito me custa.

Os HiperbĂłreos

Cabeça erguida, o céu no olhar, que o céu procura,
Baixa o humano caudal, dos desertos de gelo…
Em farrapos, ao sol, derrete-se a brancura
Da neve boreal sobre o ouro do cabelo.

Ulula, e desce; e tudo invade: a atra espessura
Dos bosques entra, a urrar e a uivar. E, uivando, pelo
Continente, a descer, ganha a Ășmida planura,
E a brenha secular, em sonoro atropelo.

Assustam-se os chacais pelas selvas serenas.
A turba ulula, o druida canta, enchendo os ares.
Entre os uivos dos cĂŁes e o grunhido das renas…

Escutando o tropel, rincha o poldro, e galopa.
Derrama-se, a rugir, das geleiras polares,
A semente feraz dos BĂĄrbaros, na Europa…

Desenganado da AparĂȘncia Exterior

DESENGANADO DA APARÊNCIA EXTERIOR COM O EXAME INTERIOR E VERDADEIRO

VĂȘs tu este gigante corpulento
que solene e soberbo se reclina?
Pois por dentro Ă© farrapos e faxina,
e Ă© um carregador seu fundamento.

Com sua alma vive e Ă© movimento,
e onde ele quer sua grandeza inclina;
mas quem seu modo rĂ­gido examina
despreza tal figura e ornamento.

SĂŁo assim as grandezas aparentes
da presunção vazia dos tiranos:
fantĂĄsticas escĂłrias eminentes.

VĂȘs que, em pĂșrpura ardendo, sĂŁo humanos?
As mĂŁos com pedrarias sĂŁo diferentes?
Pois dentro nojo sĂŁo, terra e gusanos.

Tradução de José Bento