Camões, Grande Camões, quão Semelhante
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co’o sacrĂlego gigante;Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penĂşria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vĂŁos, que em vĂŁo desejo,
TambĂ©m carpindo estou, saudoso amante.LudĂbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao CĂ©u, pela certeza
De que sĂł terei paz na sepultura.Modelo meu tu Ă©s, mas… oh, tristeza!…
Se te imito nos transes da Ventura,
NĂŁo te imito nos dons da Natureza.
Sonetos sobre Fim de Manuel Maria Barbosa du Bocage
4 resultadosÓ Trevas, que Enlutais a Natureza
Ă“ trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim PlutĂŁo se goza,
NĂŁo aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que voz minha tristeza.Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura.Volvei, pois, sombras vĂŁs, ao fogo eterno;
E, lamentando a minha desventura,
Movereis Ă piedade o mesmo Inferno.
Apenas Vi Do Dia A Luz Brilhante
Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguĂneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mĂŁe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e em fim meu fado
Dos irmĂŁos e do pai me pĂ´s distante.Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
Importuna RazĂŁo, NĂŁo Me Persigas;
Importuna RazĂŁo, nĂŁo me persigas;
Cesse a rĂspida voz que em vĂŁo murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas:Se acusas os mortais, e os nĂŁo abrigas,
Se ( conhecendo o mal ) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vĂtima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo:Queres que fuja de MarĂlia bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.