Sonetos sobre Flores de Vasco Mouzinho de Quebedo

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Sonetos de flores de Vasco Mouzinho de Quebedo. Leia este e outros sonetos de Vasco Mouzinho de Quebedo em Poetris.

Soneto VII

No Rio Eufrate[s], ua erva, ou flor se cria
Que c’o Sol sobre as águas aparece,
E dentro se recolhe e se entristece
Quando no largo mar se esconde o dia.

Ă€ vista de meu Sol ledo me via
Fora do rio, que dos olhos crece;
Agora que meu Sol nĂŁo me amanhece,
Entre lágrimas vivo em noite fria.

Mas desta flor o triste estado Ă© breve,
Trás noite manhã tem; ai de quem chora
Contando noites, sem que um dia conte.

O Sol já por milagre quedo esteve:
Também parou meu Sol, mas parou fora,
Para noite sem fim de meu Horizonte.

Soneto XXXV

Eclipsou-se teu Sol quando nascia,
Em flor cortada foi tua doce vida,
Antes de ser ganhada, foi perdida,
Deixou seus dias antes de seu dia.

Aparecer entĂŁo nos parecia
Quando a já vimos desaparecida,
Enfim, moça fermosa, estás rendida
Ă€ lei humana envolta em terra fria.

Ai Amor, quantas vezes te condenas!
Criaste-me nesta alma ua esperança,
Deixas roubar-ma a morte sem valer-me.

Mas bem entendo, Amor, que isto me ordenas
Para vir a saber a quanto alcança,
PerdĂŞ-la, sem perder-te, com perder-me.

Soneto VIII

Da virtude que move os CĂ©us depende
Todo o bem, toda a glĂłria e ser da terra,
E se u’hora faltasse, o vale, a serra,
A flor, o fruito, a fonte, o rio ofende.

Esse braço que amor de longe estende
Para esta alma, meu ser e vida encerra,
E se algu’hora Amor dela o desterra,
Que glĂłria mais que vida ou ser pretende.

Mas nem há-de faltar essa virtude
Se nĂŁo c’o mundo, nem faltar-me agora;
Vosso Amor até morte me assigura.

EntĂŁo para que nunca mais se mude,
Se mudará, e mudar-se Amor nessa hora,
Será para outro Amor que sempre dura.

Soneto XV

Triste do que em tristeza passa o dia,
Feliz porém, se a passa, e enfim lhe passa,
Mas quem ventura teve tĂŁo escassa
Que em nada ache prazer nem alegria.

Nos ais, alĂ­vio tem quem n’alma os cria,
A quem em trevas vive, a luz dá graça,
Há quem do fogo e Sol se satisfaça,
E quem se satisfaça d’água fria.

Restaura o ar, na calma, o fraco alento,
Conforta o cheiro de ua flor suave,
Convida a sombra, a erva a grato assento,

Suspende da Ave o canto a pena grave;
Ai que nĂŁo aliviam meu termento
Ais, luz, Sol, fogo, água, ar, flor, sombra, erva, Ave.