Sonetos sobre Foco de Antero de Quental

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Sonetos de foco de Antero de Quental. Leia este e outros sonetos de Antero de Quental em Poetris.

No CĂ©o, se Existe um CĂ©o para quem Chora

No céo, se existe um céo para quem chora.
CĂ©o, para as magoas de quem soffre tanto…
Se é lá do amor o foco, puro e santo,
Chama que brilha, mas que nĂŁo devora…

No cĂ©o, se uma alma n’esse espaço mora.
Que a prece escuta e encharga o nosso pranto…
Se ha Pae, que estenda sobre nĂłs o manto
Do amor piedoso… que eu nĂŁo sinto agora…

No céo, ó virgem! findarão meus males:
Hei-de lá renascer, eu que pareço
Aqui ter sĂł nascido para dĂ´res.

Ali, Ăł lyrio dos celestes vales!
Tendo seu fim, terão o seu começo.
Para nĂŁo mais findar, nossos amores.

Aspiração

Meus dias vĂŁo correndo vagarosos
Sem prazer e sem dor, e até parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece…
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gosos.

Minh’alma, Ăł Deus! a outros cĂ©us aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira…

Porém do presentir dá-me a certeza.
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!

NĂŁo Busco N’esta Vida GlĂłria ou Fama

NĂŁo busco n’esta vida glĂłria ou fama:
Das turbas que me importa o vĂŁo ruĂ­do?
Hoje, deus… e amanhĂŁ, já esquecido
Como esquece o clarĂŁo de extincta chama!

Foco incerto, que a luz já mal derrama,
Tal Ă© essa ventura: eccho perdido,
Quanto mais se chamou, mais escondido
Ficou inerte e mudo á voz que o chama.

D’essa coroa Ă© cada flor um engano,
É miragem em nuvem ilusoria,
É mote vão de fabuloso arcano.

Mas coroa-me tu: na fronte inglĂłria
Cinge-me tu o louro soberano…
Verás, verás então se amo essa glória!