Soneto VIII
Da virtude que move os Céus depende
Todo o bem, toda a glĂłria e ser da terra,
E se uâhora faltasse, o vale, a serra,
A flor, o fruito, a fonte, o rio ofende.Esse braço que amor de longe estende
Para esta alma, meu ser e vida encerra,
E se alguâhora Amor dela o desterra,
Que glĂłria mais que vida ou ser pretende.Mas nem hĂĄ-de faltar essa virtude
Se nĂŁo câo mundo, nem faltar-me agora;
Vosso Amor até morte me assigura.Então para que nunca mais se mude,
Se mudarĂĄ, e mudar-se Amor nessa hora,
SerĂĄ para outro Amor que sempre dura.
Sonetos sobre Fonte de Vasco Mouzinho de Quebedo
3 resultadosSoneto XXXX
Num seco ramo, nĂș de fruto e folha,
Ua queixosa rola geme e sente
Do casto ninho seu parceiro ausente,
E vĂȘ-lo a cada sombra se lhe antolha.Dali dece a ua fonte onde recolha
Algum alento, e porque nĂŁo consente
A dor ver ĂĄgua clara, juntamente
A envolve câos pĂ©s e o bico molha.Se ausĂȘncia e amor sentida a rola tem,
Que nem de ausĂȘncia, nem de amor conhece,
Em quem pesar nem sentimento cabe,Que farĂŁo em quem sente o que padece
Quem de seu mal conhece, e de seu bem
Temo que venha a nĂŁo sentir, e acabe.
Soneto XXXVII
Menos sente o nĂŁo ver quem cego nasce
Que aquele, que depois de ter gozado
A frescura do rio, fonte e prado,
Nesta beleza os olhos jĂĄ nĂŁo pasce.Menos, o que nĂŁo viu a bela face
Da fortuna, que quem alevantado
No mais alto, caiu daquele estado,
NĂŁo temendo que esquiva se mostrasse.Mas contudo nĂŁo sente tanto o cego
Que jĂĄ viu, o nĂŁo ver, nem sente assi
O que jĂĄ rico foi, ver-se em pobreza.Como eu, e tanto mais nisto me emprego,
Quanto mor Ă© o bem em que me vi
Que a vista de seus olhos e a riqueza.