EpĂgrafe
De palavras nĂŁo sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.De palavras nĂŁo sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistĂŞncia
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
– expressĂŁo da multidĂŁo que está comigo.
Sonetos sobre Força de Ary dos Santos
3 resultadosNona Sinfonia
É por dentro de um homem que se ouve
o tom mais alto que tiver a vida
a glĂłria de cantar que tudo move
a força de viver enraivecida.Num palácio de sons erguem-se as traves
que seguram o tecto da alegria
pedras que sĂŁo ao mesmo tempo as aves
mais livres que voaram na poesia.Para o alto se voltam as volutas
hieráticas   sagradas   impolutas
dos sons que surgem rangem e se somem.Mas de baixo Ă© que irrompem absolutas
as humanas palavras resolutas.
Por deus não basta. É mais preciso o Homem.
Ecce Homo
Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera herĂłis e homens e poetas.Pois deuses somos nĂłs. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.