Alucinação À Beira-Mar
Um medo de morrer meus pés esfriava.
Noite alta. Ante o telĂşrico recorte,
Na diuturna discĂłrdia, a equĂłrea coorte
Atordoadoramente ribombava!Eu, ególatra céptico, cismava
Em meu destino!… O vento estava forte
E aquela matemática da Morte
Com os seus números negros me assombrava!Mas a alga usufructuária dos oceanos
E os malacopterĂgios subraquianos
Que um castigo de espĂ©cie emudeceu,No eterno horror das convulsões marĂtimas
Pareciam tambĂ©m corpos de vĂtimas
Condenadas Ă Morte, assim como eu!
Sonetos sobre Fortes de Augusto dos Anjos
4 resultadosAurora Morta, Foge! Eu Busco A Virgem Loura
Aurora morta, foge! Eu busco a virgem loura
Que fugiu-me do peito ao teu clarĂŁo de morte
E Ela era a minha estrela, o meu Ăşnico Norte,
O grande Sol de afeto – o Sol que as almas doura!Fugiu… e em si a Luz consoladora
Do amor – esse clarão eterno d’alma forte –
Astro da minha Paz, SĂrius da minha Sorte
E da Noute da vida a Vênus Redentora.Agora, oh! Minha Mágoa, agita as tuas asas,
Vem! Rasga deste peito as nebulosas gazas
E, num Pálio auroral de Luz deslumbradora,Ascende à Claridade. Adeus oh! Dia escuro,
Dia do meu Passado! Irrompe, meu Futuro;
Aurora morta, foge – eu busco a virgem loura!
Budismo Moderno
Tome, Dr., esta tesoura, e… corte
Minha singularĂssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma cĂ©lula caĂda
Na aberração de um óvulo infecundo;Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do Ăşltimo verso que eu fizer no mundo!
VolĂşpia Imortal
Cuidas que o genesĂaco prazer,
Fome do átomo e eurĂtmico transporte
De todas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!NĂŁo! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tragicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!Surdos destarte a apĂłstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descamados,
Em convulsivas contorções sensuais,Haurindo o gás sulfĂdrico das covas,
Com essa volĂşpia das ossadas novas
HĂŁo de ainda se apertar cada vez mais!