Sonetos sobre Fortes

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Sonetos de fortes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Saint-Just

Quando à tribuna ele se ergueu, rugindo,
– Ao forte impulso das paixões audazes
Ardente o lábio de terríveis frases
E a luz do gĂŞnio em seu olhar fulgindo,

A tirania estremeceu nas bases,
De um rei na fronte ressumou, pungindo,
Um suor de morte e um terror infindo
Gelou o seio aos cortesĂŁos sequazes –

Uma alma nova ergueu-se em cada peito,
Brotou em cada peito uma esperança,
De um sono acordou, firme, o Direito –

E a Europa – o mundo – mais que o mundo, a França –
Sentiu numa hora sob o verbo seu
As comoções que em séculos não sofreu!

Conheço o Teu Poder e a Fouce Dura

Conheço o teu poder e a fouce dura
Que a tua dextra empolga assaz respeito.
Sei que abaixo do sol tudo Ă© sujeito
A teu poder feroz, tua bravura.

De BabilĂłnia a torre assaz segura
De teu golpe fatal sentiu o efeito.
Por ti o RĂłdio c’losso foi desfeito,
Sem lhe valer a desmarcada altura.

Mas eu tenho um padrĂŁo que Amor defende.
Tempo cruel, que zomba do teu corte,
Bem que a mim teu furor assaz ofende.

É o meu coração constante e forte,
Coração que do Tempo a mão não rende,
Coração que só vence a mão da Morte.

Soneto XXII

Ao mesmo

Rico Almazém, que Deus estima e preza,
Mais forte que o poder do inferno forte,
Bem te armas de ua morte e de outra morte,
Para qualquer encontro e brava empresa.

Arma-se o fraco cá de fortaleza
Para que assi resista ao duro corte;
Mas Deus sempre peleja d’outra sorte,
Cobrindo o forte de mortal fraqueza.

Usou c’o inferno deste prĂłprio modo,
Iscando o anzol da natureza sua
Co’ a nossa; e foi-se o pece trás o engano.

E co’ as armas da carne rota e nua
Dos Mártires venceu o mundo todo,
Hoje em ti as põem para socorro humano.

Disputa em FamĂ­lia

I

Sai das nuvens, levanta a fronte e escuta
O que dizem teus filhos rebelados,
Velho Jeová de longa barba hirsuta,
Solitário em teus Céus acastelados:

« — Cessou o império enfim da força bruta!
NĂŁo sofreremos mais, emancipados,
O tirano, de mĂŁo tenaz e astuta,
Que mil anos nos trouxe arrebanhados!

Enquanto tu dormias impassĂ­vel,
Topámos no caminho a liberdade
Que nos sorriu com gesto indefinĂ­vel…

Já provámos os frutos da verdade…
Ă“ Deus grande, Ăł Deus forte, Ăł Deus terrĂ­vel.
NĂŁo passas d’uma vĂŁ banalidade! — »

II

Mas o velho tirano solitário,
De coração austero e endurecido,
Que um dia, de enjoado ou distraido,
Deixou matar seu filho no Calvário,

Sorriu com rir estranho, ouvindo o vário
Tumultuoso coro e alarido
Do povo insipiente, que, atrevido,
Erguia a voz em grita ao seu sacrário:

« — Vanitas vanitatum! (disse). É certo
Que o homem vão medita mil mudanças,
Sem achar mais do que erro e desacerto.

Muito antes de nascerem vossos pais
D’um barro vil,

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Mancebos! De Mil Louros Triunfantes

Mancebos! De mil louros triunfantes
Adornai o Moisés da mocidade,
O Anjo que nos guia da verdade
Pelos doces caminhos sempre ovantes.

Coroai de grinaldas verdejantes
Quem rompeu para a Pátria nova idade,
Guiando pelas leis sĂŁs da amizade
Os moços do progresso sempre amantes.

VĂŞ, Brasil, este filho que o teu nome
Sobre o mapa dos povos ilustrados
Descreve qual o forte de VendĂ´me.

Conhece que os Andradas e os Machados,
Que inda vivem nas asas do renome
Não morrem nestes céus abençoados;

Flores Da Lua

Brancuras imortais da Lua Nova
Frios de nostalgia e sonolĂŞncia…
Sonhos brancos da Lua e viva essĂŞncia
Dos fantasmas noctĂ­vagos da Cova.

Da noite a tarda e taciturna trova
Soluça, numa tremula dormĂŞncia…
Na mais branda, mais leve florescĂŞncia
Tudo em Visões e Imagens se renova.

Mistérios virginais dormem no Espaço,
Dormem o sono das profundas seivas,
MonĂłtono, infinito, estranho e lasso…

E das Origens na luxĂşria forte
Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
Flores amargas do palor da Morte.

Soneto XXIIII

De ua esperança vã suspenso mouro,
Mas quando a fortes cabos mais me amarro,
Então vou através, então desgarro,
Como barca no Tejo, ou rio Douro.

Ah’ quem fora um pastor que seu tesouro
Tem no leve cortiço e tosco tarro,
E de ledo e contente os pés de barro
Julga consigo por cabeça de ouro.

Mas aquele que tem de ouro a cabeça
E pés que são de barro em cima sente,
Como não sintirá tanta desgraça.

Viva ufano, porém viva contente:
Quebra o barro, por mais que se endureça,
O imortal ouro mil idades passa.

Celeste

Aos corações ideais

Lembra-me ainda — ao lado de um repuxo,
Pela brancura de um luar de agosto,
O teu maninho, um loiro pequerrucho
Brincava, rindo, te afagando o rosto…

Lembra-me ainda — as sombras do sol posto,
Numa saleta sem brasões de luxo,
De alguns bordados de fineza e gosto
Delineavas o gentil debuxo…

E o gás que forte e cintilante ardia,
Te iluminava, te alagava… ria…
Da luz ficavas no imponente abrigo.

E agora… deixa que ao cair da noite,
Esta lembrança dentro de mim se acoite,
Como a andorinha no telhado amigo!

Havendo Escapado de uma Grande Doença

Foi tĂŁo cruel, tĂŁo duramente forte
A que passei tormenta repetida,
Que não fazendo já conta da vida,
SĂł chegava a fazer caso da morte.

Mas lastimada de meu mal a sorte,
Quando já me notava na partida,
Propícia e favorável me convida
Com porto alegre, com seguro norte.

Altiva torre fabriquei no vento,
Mas a esperança, vã que nela tive
O vento ma levou que sempre corre.

Do mundo o céu nos dê conhecimento,
Que a desgraça é morrer como quem vive,
E a ventura Ă© viver como quem morre.

Já Foste Rico e Forte e Soberano

Já foste rico e forte e soberano,
Já deste leis a mundos e nações,
Heróico Portugal, que o gram Camões
Cantou, como o nĂŁo pĂ´de um ser humano!

Zombando do furor do mar insano,
Os teus nautas, em fracos galeões,
Descobriram longínquas regiões,
Perdidas na amplidĂŁo do vasto oceano.

Hoje vejo-te triste e abatido,
E quem sabe se choras, ou entĂŁo,
Relembras com saudade o tempo ido?

Mas a queda fatal nĂŁo temas, nĂŁo.
Porque o teu povo, outrora tĂŁo temido,
Ainda tem ardor no coração.

Cinco Sentidos

Cinco sentidos sĂŁo os cinco dedos
Com que o homem tacteia a escuridĂŁo,
Rodeado de sombras e segredos
De que busca, e não acha, a solução.

Mas decerto haverá mundos mais ledos
Onde outros seres, de maior visĂŁo,
Rompendo brumas, dissipando medos,
A treva finalmente vencerĂŁo.

E sendo sete as cores, e outros tantos
Os sons da escala, mas com mil matizes
Que prolongam seu eco e seus encantos,

Talvez nos seja um dia transmitido,
Por esses mundos fortes e felizes,
Um novo sexto e sétimo sentido!

Ă€ Sua Velhice

Meu corpo assaz tem sido espicaçado
Com buĂ­dos punhais, por mĂŁo da Morte,
Que arrebatado tem, da minha corte,
Grande rancho de quanto tenho amado.

NĂŁo me poupa a cruel no triste estado
Do caduco viver da minha Sorte:
Quando era vigoroso, moço forte,
Suportava com mais valor meu Fado.

Então as minhas ásperas feridas
NĂŁo tinham para mim tardias curas,
Porque o Tempo receitas tem, sabidas.

Mas velho e c’o vapor das sepulturas,
Como posso curar as desabridas
Chagas, das minhas novas amarguras?

Em SĂłrdida Masmorra Aferrolhado

Em sĂłrdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por lĂ­nguas impostoras criminado:

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mĂŁo roto, e cuspido,
Sem ver um sĂł mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado:

O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento:

Inda assim, nĂŁo maldiz a inĂ­qua sorte
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.

Desejos VĂŁos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidĂŁo imensa!
Eu queria ser a Pedra que nĂŁo pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que Ă© humilde e nĂŁo tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar tambĂ©m chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…

V – A Vida E O Barco

Andar e mais andar Ă© a vida a bordo;
Mal estudo, e apenas eu vou lendo;
A noite com a mĂşsica entretendo;
Deito-me cedo, e mais cedo acordo.

Saudosíssimo a pátria eu recordo,
E, pra consolo versos lhe fazendo,
Desenho terras sĂł aquela vendo,
E para não chorar os lábios mordo.

Enfim há de chegar, eu bem o sei,
Que o Brasil eu reveja jubiloso;
E, se outrora eu servi-lo sĂł pensei,

Muito mais forte e muito mais zeloso,
Para ainda mais servi-lo, voltarei
TĂ© que nele encontre o Ăşltimo repouso.

Spleen

Fora, na vasta noute, um vento de procela
Erra, aos saltos, uivando, em rajadas e em fĂşria;
E num rumor de choro, uma voz de lamĂşria,
Ouço a chuva a escorrer nos vidros da janela.

No desconforto do meu quarto de estudante,
Velo. Sinto-me como insulado da vida.
Eu imagino a morte assim, aborrecida
SolidĂŁo numa sombra infinita e constante…

Tu, que Ă©s forte, rebrame em fĂşria, natureza!
Eu, caĂ­do num fundo abismo de tristeza,
Invejo-te a expansĂŁo livre do temporal;

E, no tédio feroz que me assalta e me toma,
Sinto ansiarem-me n’alma instintos de chacal…
E compreendo Nero incendiando Roma.

MĂŁos

V

Ă“ MĂŁos ebĂşrneas, MĂŁos de claros veios,
Esquisitas tulipas delicadas,
Lânguidas Mãos sutis e abandonadas,
Finas e brancas, no esplendor dos seios.

Mãos etéricas, diáfanas, de enleios,
De eflúvios e de graças perfumadas,
RelĂ­quias imortais de eras sagradas
De amigos templos de relĂ­quias cheios.
MĂŁos onde vagam todos os segredos,
Onde dos ciĂşmes tenebrosos, tredos,
Circula o sangue apaixonado e forte.

Mãos que eu amei, no féretro medonho
Frias, já murchas, na fluidez do Sonho,
Nos mistérios simbólicos da Morte!

Soneto VI

Qual naufragante mĂ­sero que cai
Da rota barca no soberbo pego,
E, lidando c’os braços sem sossego,
A cada onda receia que desmaie,

Tal, sem ter já lugar onde se espraie
Neste mar de meu mal, cansado e cego
Ando, aqui desfaleço, ali me anego,
E a cada encontro seu [a] alma me sai.

Em meio de mil barcas clamo, e brado:
“Me lancem por piedade um cabo forte!”,
Mas a ninguém magoa meu cuidado.

Ah, nĂŁo queirais que vida tal se corte
Que se vida me dais, ganhais dobrado,
Livrando muitas vidas de ua morte.

VolĂşpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse ĂŞxtase pagĂŁo que vence a sorte,
Num frĂŞmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido Ă  morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
– Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volĂşpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
VĂŁo-te envolvendo em cĂ­rculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…

A Lanterna

O sabio antigo andou pelas ruas d’Athenas,
Com a lanterna accesa, errante, Ă  luz do dia,
Buscando o varĂŁo forte e justo da Utopia,
Privado de paixões e d’emoções terrenas.

Eu tambem que aborreço as cousas vãs, pequenas
E que mais alto puz a sĂŁ Philosophia,
Ha muito busco em vĂŁo–ha muito, quem diria!
O mais cruel ideal das concepções serenas.

Tenho buscado em balde, e em vĂŁo por todo o mundo;
Esconde-se o ideal no sitio mais profundo,
No mar, no inferno, em tudo, aonde existe a dĂ´r!…

De sorte que hoje emfim, descrente, resignado,
Concentrei-me em mim sĂł, n’um tedio indignado,
E apaguei a lanterna – É sĂł um sonho o Amor!