V – A Vida E O Barco
Andar e mais andar Ă© a vida a bordo;
Mal estudo, e apenas eu vou lendo;
A noite com a mĂşsica entretendo;
Deito-me cedo, e mais cedo acordo.SaudosĂssimo a pátria eu recordo,
E, pra consolo versos lhe fazendo,
Desenho terras sĂł aquela vendo,
E para não chorar os lábios mordo.Enfim há de chegar, eu bem o sei,
Que o Brasil eu reveja jubiloso;
E, se outrora eu servi-lo sĂł pensei,Muito mais forte e muito mais zeloso,
Para ainda mais servi-lo, voltarei
TĂ© que nele encontre o Ăşltimo repouso.
Sonetos sobre Fortes de Pedro II do Brasil
3 resultadosIII – A IdĂ©ia Consoladora
Vendo as ondas correr para o ocidente,
Corre mais do que elas a saudade,
Mas espero que a minha enfermidade
O mesmo me consinta brevemente.Com saĂşde mais lustre dar Ă mente
É cousa que enobrece a humanidade;
Contudo agora o paga a amizade
Da pátria, e da famĂlia, cruelmente;Mas consola-me a idĂ©ia, — que mais forte
Lhes voltarei para melhor amá-los,
Pois mais anos assim até a morteEu mostrarei que sempre quis ligá-los
Na feliz, e também na infeliz sorte
Para, amando-os, ainda consolá-los.
Ingratos
NĂŁo maldigo o rigor da inĂqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contĂnua f’licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.