Solilóquio
Já que o sol pouco a pouco se desmaia
E meu mal cada vez mais se desvela,
Enquanto a pena, a ânsia, a mágoa vela,
Quero aqui estar sozinho nesta praia.Que bravo o mar se vê! Como se ensaia
Na fúria e contra os ares se rebela!
Como se enrola! Como se encapela!
Parece quer sair da sua raia.Mas também que inflexível, que constante
Aquela penha está à força dura
De tanto assalto e horror perseverante!Ó empolado mar, penha segura,
Sois a imagem mais própria e semelhante
De meu fado e da minha desventura.
Sonetos de Francisco de Pina e Melo
2 resultados Sonetos de Francisco de Pina e Melo. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.
Fuga Proveitosa
Não hás também agora de vencer-me,
Que eu hei-de resistir-te, Amor tirano.
Que é isto? Sempre entende o teu engano
Que há com novas astúcias de render-me?Imaginas que para esmorecer-me
Basta oferecer-me um rosto soberano?
Pois não, Amor, que o velho Desengano
Não faz mais que avisar-me e reprender-me.Se alguma cousa dele necessitas,
Eu sou bom portador, podes dizê-lo
Que eu farei quanto tu me encomendares.Mas que queres, que tanto assim me gritas?
Que espere? Não, Amor, que o meu desvelo
Só se salva em fugir dos teus altares.