Bondade
É a bondade que te faz formosa,
Que a alma te diviniza e transfigura;
É a bondade, a rosa da ternura,
Que te perfuma com perfume Ă rosa.Teu ser angelical de luz bondosa
Verte em meu ser a mais sutil doçura,
Uma celeste, lĂmpida frescura,
Um encanto, uma paz maravilhosa.Eu afronto contigo os vampirismos,
Os corruptos e mĂłrbidos abismos
Que em vĂŁo busquem tentar-me no Caminho.Na suave, na doce claridade,
No consolo, de amor dessa bondade
Bebo a tu’alma como etĂ©reo vinho.
Sonetos sobre Frescura de Cruz e Souza
7 resultadosMagnĂłlia Dos TrĂłpicos
A AraĂşjo Figueredo
Com as rosas e o luar, os sonhos e as neblinas,
Ă“ magnĂłlia de luz, cotovia dos mares,
Formaram-te talvez os brancos nenĂşfares
Da tua carne ideal, de correções felinas.O teu colo pagão de virgens curvas finas
É o mais imaculado e flóreo dos altares,
Donde eu vejo elevar-se eternamente aos ares
Viáticos de amor e preces diamantinas.Abre, pois, para mim os teus braços de seda
E do verso atravĂ©s a lĂmpida alameda
Onde há frescura e sombra e sol e murmurejo;Vem! com a asa de um beijo a boca palpitando,
No alvoroço febril de um pássaro cantando,
Vem dar-me a extrema-unção do teu amor num beijo.
Tulipa Real
Carne opulenta, majestosa, fina,
Do sol gerada nos febris carinhos,
Há músicas, há cânticos, há vinhos
Na tua estranha boca sulferina.A forma delicada e alabastrina
Do teu corpo de lĂmpidos arminhos
Tem a frescura virginal dos linhos
E da neve polar e cristalina.Deslumbramento de luxĂşria e gozo,
Vem dessa carne o travo aciduloso
De um fruto aberto aos tropicais mormaços.Teu coração lembra a orgia dos triclĂnios…
E os reis dormem bizarros e sangĂĽĂneos
Na seda branca e pulcra dos teus braços.
No Campo
Acordo de manhĂŁ cedo
Da luz aos doces carinhos:
Que rosas pelos caminhos!
Que rumor pelo árvoredo!Para o azul radioso e ledo
Sobe, de dentro dos ninhos,
O canto dos passarinhos
Cheio de amor e segredo.Dentre moitas de verdura
Voam as pombas nevadas,
Imaculadas de alvura.Pelas margens das estradas
Que penetrante frescura
Que femininas risadas!
Visionários
Armam batalhas pelo mundo adiante
Os que vagam no mundos visionários,
Abrindo as áureas portas de sacrários
Do Mistério soturno e palpitante.O coração flameja a cada instante
Com brilho estranho, com fervores vários,
Sente a febre dos bons missionários
Da ardente catequese fecundante.Os visionários vão buscar frescura
De água celeste na cisterna pura
Da Esperança, por horas nebulosas…Buscam frescura, um outro novo encanto…
E livres, belos através do pranto,
Falam baixo com as almas misteriosas!
Boca
III
Boca viçosa, de perfume a lĂrio,
Da lĂmpida frescura da nevada,
Boca de pompa grega, purpureada,
Da majestade de um damasco assĂrio.Boca para deleites e delĂrio
Da volĂşpia carnal e alucinada,
Boca de Arcanjo, tentadora e arqueada,
Tentando Arcanjos na amplidĂŁo do EmpĂrio,Boca de OfĂ©lia morta sobre o lago,
Dentre a auréola de luz do sonho vago
E os faunos leves do luar inquietos…Estranha boca virginal, cheirosa,
Boca de mirra e incensos, milagrosa
Nos filtros e nos tĂłxicos secretos…
Quando Será?!
Quando será que tantas almas duras
Em tudo, já libertas, já lavadas
nas águas imortais, iluminadas
Do sol do Amor, hĂŁo de ficar bem puras?Quando será que as lĂmpidas frescuras
Dos claros rios de ondas estreladas
Dos céus do Bem, hão de deixar clareadas
Almas vis, almas vãs, almas escuras?Quando será que toda a vasta Esfera,
Toda esta constelada e azul Quimera,
Todo este firmamento estranho e mudo,Tudo que nos abraça e nos esmaga,
quando será que uma resposta vaga,
Mas tremenda, hĂŁo de dar de tudo, tudo?!