Mocidade
Ah! esta mocidade! — Quem Ă© moço
Sente vibrar a febre enlouquecida
Das ilusÔes, da crença mais florida
Na muscular artĂ©ria de Colosso…Das incertezas nunca mede o poço…
Asas abertas — na amplidĂŁo da vida,
PĂĄramo a dentro — de cabeça erguida,
VĂȘ do futuro o mais alegre esboço…Chega a velhice, a neve das idades
E quem foi moço, volve, com saudades,
Do azul passado, o fulgido compĂȘndio…Ai! esta mocidade palpitante,
Lembra um inseto de ouro, rutilante,
Em derredor das chamas de um incĂȘndio!
Sonetos sobre Futuro de Cruz e Souza
4 resultadosSupremo Anseio
Esta profunda e intérmina esperança
Na qual eu tenho o espĂrito seguro,
A tão profunda imensidade avança
Como é profunda a idéia do futuro.Abre-se em mim esse clarão, mais puro
Que o céu preclaro em matinal bonança:
Esse clarĂŁo, em que eu melhor fulguro,
Em que esta vida uma outra vida alcança.Sim! Inda espero que no fim da estrada
Desta existĂȘncia de ilusĂ”es cravada
Eu veja sempre refulgir bem pertoEsse clarĂŁo esplendoroso e louro
Do amor de mĂŁe — que Ă© como um fruto de ouro,
Da alma de um filho no eternal deserto.
Sempre E Sempre
De longe ou perto, juntas, separadas,
Olhando sempre os mesmos horizontes,
Presas, unidas nossas duas fontes
GĂȘmeas, ardentes, novas, inspiradas;Vendo cair as lĂĄgrimas prateadas,
Sentindo o coro harmĂŽnico das fontes,
Sempre fitando a cĂșspide dos montes
E o rosicler das frescas alvoradas;Sempre embebendo os lĂmpidos olhares
Na claridĂŁo dos humildes luares,
No loiro sol das crenças se embebendo,Vão nossas almas brancas e floridas
Pelo futuro azul das nossas vidas,
Sempre se amando, sempre se querendo.
To Sleep, To Dream
Dormir, sonhar — o poeta inglĂȘs o disse…
Ah! Mas se a gente nunca mais sonhasse
Ah! Mas se a gente nunca mais dormisse
E a ilusÔes não mais acalentasse?E o que importava que o futuro risse
De um visionĂĄrio que tal cousa ideasse;
Se nĂŁo seria o Ășnico que abrisse
Uma exceção da vida humana Ă face?…Se os imortais filĂłsofos modernos
Que derrubaram todos os infernos,
Que destruĂram toda a teogonia.Orientando a triste humanidade,
Deixaram, mais e mais, a piedade
Inteiramente desolada e fria?