Louvor A Unidade
“Escafandros, arpĂ”es, sondas e agulhas
“Debalde aplicas aos heterogĂȘneos
“FenĂŽmenos, e, hĂĄ inĂșmeros milĂȘnios,
“Num pluralismo hediondo o olhar mergulhas!“Une, pois, a irmanar diamantes e hulhas,
“Com essa intuição monĂstica dos gĂȘnios,
“Ă hirta forma falaz do are perennius
“A transitoriedade das fagulhas!”– Era a estrangulação, sem retumbĂąncia,
Da multimilenĂĄria dissonĂąncia
Que as harmonias siderais invade…Era, numa alta aclamação, sem gritos,
O regresso dos ĂĄtomos aflitos
Ao descanso perpétuo da Unidade!
Sonetos sobre GĂ©nios de Augusto dos Anjos
5 resultadosErgue, Criança, A Fronte Condorina
Ergue, criança, a fronte condorina
Que é tua fronte, oh!, genial criança,
Ă como a estrela-d’alva da esperança,
Do talento sagrado que a ilumina!Ergue-a, pois, e que, à auréola purpurina
Do Sol da CiĂȘncia, o rĂștilo tesouro
Do Estudo – o Grande Mestre – que te ensina,
Chova sobre ela suas gemas d’ouro!E hoje que colhes um laurel bendito,
Aceita a saudação que num contrito
Fervor, eleva, qual penhor sinceroUm peito amigo a outro peito amigo,
A um gĂȘnio que desponta e que eu bendigo,
A um coração de irmão que tanto quero!
GĂȘnio Das Trevas LĂșgubres, Acolhe-me
GĂȘnio das trevas lĂșgubres, acolhe-me,
Leva-me o esp’rito dessa luz que mata,
E a alma me ofusca e o peito me maltrata,
E o viver calmo e sossegado tolhe-me!Leva-me, obumbra-me em teu seio, acolhe-me
N’asa da Morte redentora, e Ă ingrata
Luz deste mundo em breve me arrebata
E num pallium de tĂȘnebras recolhe-me!Aqui hĂĄ muita luz e muita aurora,
HĂĄ perfumes d’amor – venenos d’alma –
E eu busco a plaga onde o repouso mora,E as trevas moram, e, onde d’ĂĄgua raso
O olhar nĂŁo trago, nem me turba a calma
A aurora deste amor que Ă© o meu ocaso!
Agonia De Um FilĂłsofo
Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda. E, ante obras tais, me nĂŁo consolo…
O Inconsciente me assombra e eu nĂȘle tolo
Com a eĂłlica fĂșria do harmatĂŁ inquieto!Assisto agora Ă morte de um inseto!…
Ah! todos os fenĂŽmenos do solo
Parecem realizar de pĂłlo a pĂłlo
O ideal de Anaximandro de Mileto!No hierĂĄtico areopago heterogĂȘneo
Das idĂ©as, percorro como um gĂȘnio
Desde a alma de Haeckel Ă alma cenobial!…Rasgo dos mundos o velĂĄrio espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substùncia universal!
O Fim Das Coisas
Pode o homem bruto, adstricto Ă ciĂȘncia grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
SĂŽfrego, o solo sĂĄxeo; e, na Ăąnsia ardente
De perscrutar o Ăntimo do orbe, invente
A limpada aflogĂstica de Davy!Em vĂŁo! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio …E quando, ao cabo do Ășltimo milĂȘnio,
A humanidade vai pesar seu gĂȘnio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!