Sonetos sobre Horas de Martins Fontes

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Sonetos de horas de Martins Fontes. Leia este e outros sonetos de Martins Fontes em Poetris.

SĂŁo Francisco E O Rouxinol

Um rouxinol cantava. Alegremente,
quis SĂŁo Francisco, no frutal sombrio,
acompanhar o pássaro contente,
e começa a cantar, ao desafio.

E cantavam os dois, junto Ă  corrente
do Arno sonoro, do lendário rio.
Mas SĂ o Francisco, exausto, finalmente,
parou, tendo cantado horas a fio.

E o rouxinol lá prosseguiu cantando,
redobrando as constantes cantilenas,
os trilados festivos redobrando.

E o santo assim reflete, satisfeito,
que feito foi para escutar, apenas,
e o rouxinol para cantar foi feito.

Desarmonia

Certas estrelas coloridas,
estrelas duplas sĂŁo chamadas,
parecem estarem confundidas,
mas resplandecem afastadas.

Assim, na terra, as nossas vidas,
nas horas mais apaixonadas,
dĂŁo a ilusĂŁo de estar unidas,
e estĂŁo, de fato, separadas.

O amor e as forças planetárias,
trocando as luzes e os abraços,
tentam fundi-las e prendĂŞ-las.

E eternamente solitárias,
dentro do tempo e dos espaços,
vivem as almas e as estrelas.

CrepĂşsculo

Alada, corta o espaço uma estrela cadente.
As folhas fremem. Sopra o vento. A sombra avança.
Paira no ar um languor de mística esperança
e de docĂşra triste, inexprimivelmente.

Ă€ surdina da luz irrompe, de repente,
o coro vesperal das cigarras. E mansa,
E marmórea, no céu, curvo e claro, balança,
entre nuvens de opala, a concha do crescente.

Na alma, como na terra, a noite nasce. É quando,
da recĂ´ndita paz das horas esquecidas,
vĂŁo, ao luar da saudade, os sonhos acordando…

E, na torre do peito, em plácidas batidas,
melancolicamente o coração chorando,
plange o réquiem de amor das ilusões perdidas.