Amor Fero e Cruel, Fortuna Escura
GrĂŁo tempo hĂĄ jĂĄ que soube da Ventura
A vida que me tinha destinada,
Que a longa experiĂȘncia da passada
Me dava claro indĂcio da futura.Amor fero e cruel, Fortuna escura,
Bem tendes vossa força exprimentada;
Assolai, destruĂ, nĂŁo fique nada;
Vingai-vos desta vida, que inda dura.Soube Amor da Ventura que a nĂŁo tinha,
E por que mais sentisse a falta dela,
De imagens impossĂveis me mantinha.Mas vĂłs, Senhora, pois que minha estrela
NĂŁo foi melhor, vivei nesta alma minha,
Que nĂŁo tem a Fortuna poder nela.
Sonetos sobre IndĂcios
5 resultadosTrocou Finita Vida por Divina, Infinita e Clara Fama
â NĂŁo passes, caminhante! â Quem me chama?
â Uma memĂłria nova e nunca ouvida,
De um que trocou finita e humana vida
Por divina, infinita e clara fama.â Quem Ă© que tĂŁo gentil louvor derrama?
â Quem derramar seu sangue nĂŁo duvida
Por seguir a bandeira esclarecida
De um capitĂŁo de Cristo, que mais ama.â Ditoso fim, ditoso sacrifĂcio,
Que a Deus se fez e ao mundo juntamente!
Apregoando direi tĂŁo alta sorte.â Mais poderĂĄs contar a toda a gente
Que sempre deu na vida claro indĂcio
De vir a merecer tĂŁo santa morte.
Um Mover D’olhos, Brando E Piadoso
Um mover d’olhos, brando e piadoso,
sem ver de quĂȘ; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravĂssimo e modesto;
ĂŒa pura bondade, manifesto
indĂcio da alma, limpo e gracioso;um encolhido ousar; ĂŒa brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mĂĄgico veneno
que pĂŽde transformar meu pensamento.
A Força desta Nossa Despedida
NĂŁo sei em qual se vĂȘ mais rigorosa
a força desta nossa despedida,
se em mim que sinto jĂĄ partir a vida,
se em vĂłs, a quem contemplo tĂŁo chorosa,VĂłs com indĂcios d’alma piedosa,
mostrais a dor em ĂĄgua convertida,
eu com me ver tĂŁo junto da partida,
nem ågua me deixou dor tão forçosa:Vós pelo que entendeis do meu sentido,
chorais tendo a causa inda presente,
pagando-me antemão quanto mereço:Eu logo que me vir de vós partido,
n’alma satisfarei estando ausente
esse amor que nos olhos vos conheço.
O MĂĄgico Veneno
Um mover de olhos, brando e piedoso,
Sem ver de quĂȘ; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravĂssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
IndĂcio da alma, limpo e gracioso;Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento;Esta foi a celeste formosura
Da minha Circe, e o mĂĄgico veneno
Que pĂŽde transformar meu pensamento.