IV
Vagueiam suavemente os teus olhares
Pelo amplo céu franjado em linho:
Comprazem-te as visĂ”es crepusculares…
Tu Ă©s uma ave que perdeu o ninho.Em que nichos doirados, em que altares
Repoisas, anjo errante, de mansinho?
E penso, ao ver-te envolta em véus de luares,
Que vĂȘs no azul o teu caixĂŁo de pinho.Ăs a essĂȘncia de tudo quanto desce
Do solar das celestes maravilhas…
– Harpa dos crentes, cĂtola da prece…Lua eterna que nĂŁo tivesse fases,
Cintilas branca, imaculada brilhas,
E poeiras de astros nas sandĂĄlias trazes…
Sonetos Interrogativos de Alphonsus de Guimaraens
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II
Celeste… Ă assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste…
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do cĂ©u vieste?Celeste… E como tu Ă©s do cĂ©u nĂŁo amas:
Forma imortal que o espĂrito reveste
De luz, nĂŁo temes sol, nĂŁo temes chamas,
Porque Ă©s sol, porque Ă©s luar, sendo celeste.IncoercĂvel como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mĂĄgoa do findar do dia.E a lua, em meio Ă noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hĂłstia sagrada.