Sonetos Interrogativos

507 resultados
Sonetos interrogativos sobre diversos assuntos para ler e compartilhar. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Milagre De Amor

Que mimporta, meu amor, a poesia que tanto
te preocupa porque a fiz antes de ti ?
Hoje… para nĂŁo ver os teus olhos em pranto
por Deus que eu rasgaria os versos que escrevi…

Hoje, já nĂŁo sĂŁo meus… Como que por encanto
estes poemas que fiz, que sonhei, que vivi,
sĂŁo estranhos que seguem cantando o meu canto
a falarem de um velho mundo, que esqueci…

De repente a mudança é tão grande, é tamanha,
que o passado se esvai numa sombra perdida,
e a minha prĂłpria voz soa falsa e estranha…

Ă“h Milagre de Amor… ( Que por louco me tomem!)
Mas sinto uma alma nova em mim… tenho oura vida!!
E um novo coração no peito… e sou outro homem!

Ă€ Vaidade do Mundo

É a vaidade, Fábio, desta vida
Rosa que na manhĂŁ lisonjeada
Púrpuras mil com ambição coroada
Airosa rompe, arrasta presumida;

É planta que de Abril favorecida
Por mares de soberba desatada,
Florida galera empavezada,
Surca ufana, navega destemida;

É nau, enfim, que em breve ligeireza,
Com presunção de fénix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza.

Mas ser planta, rosa e nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

Soneto Sonhado

Meu tudo, minha amada e minha amiga,
Eis, compendiada toda num soneto,
A minha profissão de fé e afeto,
Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga.

O que n’alma guardei de muito antiga
ExperiĂŞncia foi pena e ansiar inquieto.
Gosto pouco do amor ideal objeto
SĂł, e do amor sĂł carnal nĂŁo gosto miga.

O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nĂłs! nĂŁo vem de nĂłs. Viria
De onde? Dos cĂ©us?… Dos longes da distância?…

NĂŁo te prometo os estos, a alegria,
A assunção… Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.

Lindo E Sutil Trançado, Que Ficaste

Lindo e sutil trançado, que ficaste
em penhor do remédio que mereço,
se só contigo, vendo te, endoudeço,
que fora cos cabelos que apertaste?

Aquelas tranças d’ouro, que ligaste,
que os raios do Sol têm em pouco preço,
não sei se para engano do que peço
se para me atar, os desataste.

Lindo trançado, em minhas mãos te vejo,
e por satisfação de minhas dores
como quem nĂŁo tem outra, hei de tomar te.

E se nĂŁo for contente meu desejo,
dir lhe hei que, nesta regra dos amores,
pelo todo também se toma a parte.

Boa Noite

Boa noite, meu amor, – diz boa noite, querida,
vou deitar-me, e sonhar contigo ainda uma vez,
a noite assim azul, cheia de luz, nĂŁo vĂŞs?
Parece que nos chama e a sonhar nos convida…

O céu é aquela folha onde deixei perdida
a histĂłria de um amor, que te contei talvez,
– hoje, nela eu nĂŁo creio, e tu tambĂ©m nĂŁo crĂŞs,
– mas, para que falar nessa histĂłria esquecida?…

Boa noite, meu amor… VĂŞ se sonhas tambĂ©m…
“Um castelo encantado… um paĂ­s muito alĂ©m
e um prĂ­ncipe ao teu lado amoroso e cortĂŞs…”

Com o céu azul assim, talvez dormir consiga,
vou sonhar…vou sonhar contigo, minha querida,
vê se sonhas também comigo alguma vez!.

Soneto Italiano

Frescuras das sereias e do orvalho,
Graça dos brancos pes dos pequeninos,
Voz das anhĂŁs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:

De quem me valerei, se nĂŁo me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinza que em pranto ao vento espalho?

TambĂ©m te vi chorar… TambĂ©m sofreste
A dor de ver secarem pela estrada
As fontes da esperança… E nĂŁo cedeste!

Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar Ă  vida, em que morreste,
Tudo – Ă  vida, que nunca te deu nada!

Velho Tema III

Belas, airosas, pálidas, altivas,
Como tu mesma, outras mulheres vejo:
SĂŁo rainhas, e segue-as num cortejo
Extensa multidĂŁo de almas cativas.

Tem a alvura do mármore; lascivas
Formas; os lábios feitos para o beijo;
E indiferente e desdenhoso as vejo
Belas, airosas, pálidas, altivas…

Por quĂŞ? Porque lhes falta a todas elas,
Mesmo Ă s que sĂŁo mais puras e mais belas,
Um detalhe sutil, um quase nada:

Falta-lhes a paixĂŁo que em mim te exalta,
E entre os encantos de que brilham, falta
O vago encanto da mulher armada.

Ăšltimo Soneto

Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste…
– Se me dĂłi hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi…

Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tĂ©dio que, tĂŁo esbelta, te curvava…

E fugiste… Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?…

Soneto 351 Kármico

Quinhentas e cinqüenta e cinco peças
perfazem as sonatas de Scarlatti.
Nivelam-se, em altĂ­ssimo quilate,
Ă  Nona, Ă  Mona Lisa, qualquer dessas.

Farei tantos sonetos? Não mo peças!
É meta muito hercúlea para um vate!
Recorde desse porte nĂŁo se bate:
no máximo se iguala, e nunca às pressas.

Já fiz mais que Camões, mais que Petrarca:
dois, dois, dois; trĂŞs, trĂŞs, trĂŞs; de pouco em pouco,
que a lira tambĂ©m broxa… É porca. É parca.

Poeta que for cego, mudo ou mouco
compensa a privação com a fuzarca:
diverte-se sofrendo. É glauco. É louco.

Porto inseguro

A liberdade bate Ă  minha porta,
tĂŁo carente de mim, pedindo abrigo.
Quero ampará-la e penso que consigo
detĂŞ-la, mas seria tĂŞ-la morta.

Livre para pairar num céu sem peias,
na solidĂŁo de um vĂ´o sem destino,
por que perder, nos olhos de águia, o tino,
vindo a quem se agrilhoa sem cadeias?

Deusa das asas! Seu vagar escapa
a meus sentidos, seu desejo alcança
tudo que a mim se esconde atrás da capa.

Vá embora daqui! Siga seu rumo!
Sou prisioneiro, um órfão da esperança
e arrasto um vĂ´o cego em chĂŁo sem prumo.

MĂŁezinha

Andam em mim fantasmas, sombras, ais…
Coisas que eu sinto em mim, que eu sinto agora;
Névoas de dantes, dum longínquo outrora;
Castelos d’oiro em mundos irreais…

Gotas d’água tombando… Roseirais
A desfolhar-se em mim como quem chora…
— E um ano vale um dia ou uma hora,
Se tu me vais fugindo mais e mais!…

Ó meu Amor, meu seio é como um berço
Ondula brandamente… Brandamente…
Num ritmo escultural d’onda ou de verso!

No mundo quem te vĂŞ?! Ele Ă© enorme!…
Amor, sou tua mĂŁe! Vá… docemente
Poisa a cabeça… fecha os olhos… dorme…

Cárcere Das Almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ă“ almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

6

(Ă€ morte da esposa)

Ó alma pura enquanto cá vivias,
Alma, lá onde vives, já mais pura,
Porque me desprezaste? Quem tĂŁo dura
Te tornou ao amor que me devias?

Isto era o que mil vezes prometias,
Em que minha alma estava tĂŁo segura?
Que ambos juntos Da hora desta escura
Noute nos subiria aos claros dias?

Como em tĂŁo triste cárcer’ me deixaste?
Como pude eu sem mi deixar partir-te?
Como vive este corpo sem sua alma?

Ah! que o caminho tu bem mo mostraste,
Porque correste Ă  gloriosa palma!
Triste de quem nĂŁo mereceu seguir-te!

Versos de Orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém!

Porque o meu Reino fica para Além!
Porque trago no olhar os vastos céus,
E os oiros e os clarões são todos meus!
Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo! O que Ă© o mundo, Ăł meu amor?!
O jardim dos meus versos todo em flor,
A seara dos teus beijos, pĂŁo bendito,

Meus ĂŞxtases, meus sonhos, meus cansaços…
São os teus braços dentro dos meus braços:
Via Láctea fechando o Infinito!…

Amor um Mal que Falta quando Cresce

Aquela fera humana que enriquece
A sua presunçosa tirania
Destas minhas entranhas, onde cria
Amor um mal que falta quando cresce;

Se nela o Céu mostrou (como parece)
Quanto mostrar ao mundo pretendia,
Porque de minha vida se injuria?
Porque de minha morte se enobrece?

Ora, enfim, sublimai vossa vitĂłria,
Senhora, com vencer-me e cativar-me;
Fazei dela no mundo larga histĂłria.

Pois, por mais que vos veja atormentar-me,
Já me fico logrando desta glória
De ver que tendes tanta de matar-me.

CrepĂşsculo

Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes
Batendo as asas leves, irisadas,
Poisam nos meus, suaves e cansadas
Como em dois lĂ­rios roxos e dolentes…

E os lĂ­rios fecham… Meu Amor, nĂŁo sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E as minhas pobres mĂŁos sĂŁo maceradas
Como vagas saudades de doentes…

O SilĂŞncio abre as mĂŁos… entorna rosas…
Andam no ar carĂ­cias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando…

E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha
Um coração ardente palpitando…

Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angĂşstia que nos Ă© devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mĂŁo que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.

Já não Vivi, Só Penso

Já não vivo, só penso. E o pensamento
Ă© uma teia confusa, complicada,
uma renda subtil feita de nada:
de nuvens, de crepĂşsculos, de vento.

Tudo Ă© silĂŞncio. O arco-Ă­ris Ă© cinzento,
e eu cada vez mais vaga, mais alheada.
Percorro o céu e a terra aqui sentada,
sem uma voz, um olhar, um movimento.

Terei morrido já sem o saber?
Seria bom mas nĂŁo, nĂŁo pode ser,
ainda me sinto presa por mil laços,

ainda sinto na pele o sol e a lua,
ouço a chuva cair na minha rua,
e a vida ainda me aperta nos seus braços.

Paisagens De Inverno I

Ó meu coração, torna para trás.
Onde vais a correr, desatinado?
Meus olhos incendidos que o pecado
Queimou! – o sol! Volvei, noites de paz.

Vergam da neve os olmos dos caminhos.
A cinza arrefeceu sobre o brasido.
Noites da serra, o casebre transido…
Ă“ meus olhos, cismai como os velhinhos.

Extintas primaveras evocai-as:
– Já vai florir o pomar das maceiras.
Hemos de enfeitar os chapéus de maias.-

Sossegai, esfriai, olhos febris.
-E hemos de ir cantar nas derradeiras
Ladainhas…Doces vozes senis…-

Digo Que Esqueço

Creio que te esqueci… de agora em diante
já não há nada entre nós dois, não há,
– achaste-me orgulhoso e intolerante
e eu te achei menos fĂştil do que má…

Foi um momento sĂł… foi um instante
essa nossa ilusão, e hoje, onde está
aquele amor inquieto e delirante ?
– Bem que pensava: – Ă© falso! morrerá!

Sinto apenas que tenha te adorado,
e que hoje sofra em vĂŁo, inutilmente
procurando apagar todo o passado…

Digo que esqueço… que nĂŁo penso em ti!
– Mas nĂŁo te esqueço nunca, e justamente
porque fico a pensar que te esqueci.