Sonetos sobre InĂșteis de Camilo Pessanha

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Sonetos de inĂșteis de Camilo Pessanha. Leia este e outros sonetos de Camilo Pessanha em Poetris.

Foi Um Dia De InĂșteis Agonias

Foi um dia de inĂșteis agonias.
Dia de sol, inundado de sol!…
Fulgiam nuas as espadas frias…
Dia de sol, inundado de sol!…

Foi um dia de falsas alegrias.
DĂĄlia a esfolhar-se, – o seu mole sorriso…
Voltavam ranchos das romarias.
DĂĄlia a esfolhar-se, – o seu mole sorriso…

Dia impressĂ­vel mais que os outros dias.
TĂŁo lĂșcido… TĂŁo pĂĄlido… TĂŁo lĂșcido!…
Difuso de teoremas, de teorias…

O dia fĂștil mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias…
TĂŁo lĂșcido… TĂŁo pĂĄlido… TĂŁo lĂșcido!…

Madalena

…e lhe regou de lĂĄgrimas os pĂ©s e os enxugou com os cabelos da sua cabeça. Evangelho de S. Lucas.

Ó Madalena, ó cabelos de rastos,
LĂ­rio poluĂ­do, branca flor inĂștil…
Meu coração, velha moeda fĂștil,
E sem relevo, os caracteres gastos,

De resignar-se torpemente dĂșctil…
Desespero, nudez de seios castos,
Quem também fosse, ó cabelos de rastos,
EnsangĂŒentado, enxovalhado, inĂștil,

Dentro do peito, abominĂĄvel cĂŽmico!
Morrer tranqĂŒilo, – o fastio da cama…
Ó redenção do mármore anatîmico,

Amargura, nudez de seios castos!…
Sangrar, poluir-se, ir de rastos na lama,
Ó Madalena, ó cabelos de rastos!

San Gabriel I

InĂștil! Calmaria. JĂĄ colheram
As velas. As bandeiras sossegaram,
Que tĂŁo altas nos topes tremularam,
– Gaivotas que a voar desfaleceram.

Pararam de remar! Emudeceram!
(Velhos ritmos que as ondas embalaram)
Que cilada que os ventos nos armaram!
A que foi que tĂŁo longe nos trouxeram?

San Gabriel, arcanjo tutelar,
Vem outra vez abençoar o mar,
Vem-nos guiar sobre a planĂ­cie azul.

Vem-nos levar Ă  conquista final
Da luz, do Bem, doce clarĂŁo irreal.
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!

Imagens Que Passais Pela Retina

Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque nĂŁo vos fixais?
Que passais como a ĂĄgua cristalina
Por uma fonte para nunca mais!…

Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
– Porque ides sem mim, nĂŁo me levais?

Sem vĂłs o que sĂŁo os meus olhos abertos?
– O espelho inĂștil, meus olhos pagĂŁos!
Aridez de sucessivos desertos…

Fica sequer, sombra das minhas mĂŁos,
FlexĂŁo casual de meus dedos incertos,
– Estranha sombra em movimentos vĂŁos.